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domingo, 30 de junho de 2013

O Estranho Mundo de Jack (The Nightmare Before Christmas) - 1993; original e divertido

O Estranho Mundo de Jack (The Nightmare Before Christmas), lançado em 1993.
Um filme de Henry Selick.
Apesar de não ter realizado-o, Tim Burton assinou o roteiro e produziu este filme. Tanto que ele tem muito do seu estilo pessoal, usa a imaginação e bom gosto para contar uma história de horror em stop motion (que diverte muito mais do que assusta). Visualmente ele é simples, com personagens propositalmente desengonçados, mas é uma experiência rica e agradável, mesmo com as cores sombrias e uma paleta não tão variada.

Num mundo paralelo chamado Cidade do Halloween vivem criaturas fantasmagóricas que durante todo o ano preparam as festividades do Dia das Bruxas. Quem organiza tudo e é o centro das atenções é Jack, o Rei das Abóboras, um esqueleto muito divertido mas que ultimamente anda deprimido com a monotonia de seus halloweens. Sally é uma boneca apaixonada por Jack, criada por um cientista louco, que a impede de ter uma vida social. Depois de muito vaguear, Jack encontra vários portais, correspondentes a várias datas festivas, e acaba indo parar na Cidade do Natal, onde se encanta com o clima natalino. De volta a sua terra, sem entender muito bem o que viu, decide comemorar o natal, o que acaba não sendo a melhor das ideias.

Tudo no filme parece novo. Seu cenário não é realista, e não nos traz lembranças de algo que estamos acostumados a ver. Tudo é fantasioso, tudo desperta a atenção e a imaginação. Jack é um esqueleto cuja magreza, aliada a uma postura e uma personalidade próprios, faz dele um ser incrivelmente elegante. Mas continua desengonçado. É contraditório mas é verdade. Ele produz eventos e canta, e suas músicas são inteligentes e alegres. Uma criatura benévola mas que cuja ignorância e ingenuidade o leva a cometer bobagens. Apaixonado por ele está Sally, uma criatura criada pela ciência que se mostra a mais prudente das personagens. Seus sonhos são sufocados pela falta de liberdade, e não é capaz de se declarar. As dublagens são eficientes, e os efeitos especias melhoram ainda mais a viagem. 

Todo o cenário é rico em detalhes que agradam os olhos, e é feito em tons de azul e negro, o que dá um ar sombrio na película, que afinal é um conto alegre de horror para crianças; encantador e macabro. Ainda que isso, novamente, pareça contraditório. 

#ficaadica


sexta-feira, 28 de junho de 2013

Curta-metragem: Dimensões do Diálogo (Moznosti Dialogu) - 1983; surrealismo e metáforas

Dimensões do Diálogo (Moznosti Dialogu), lançado em 1983.
Um filme de Jan Svankmajer.
Este é um filme fantástico. O diretor tcheco Jan Svankmajer nos presenteia com esta maravilhosa animação stop-motion, em que usa os mais variados materiais, pacientemente arrumados e fotografados; para contar-nos três histórias. São três curtas dentro de um só, de tamanho total de apenas 12 minutos.

Dimensões do Diálogo é um retrato metafórico de como o ser humano se recusa a se comunicar, de como somos egoístas, e como isso gera conflitos e tragédias. Mais que isso, é um dos maiores expoentes do surrealismo no cinema do século XX.

A primeira traz três figuras antropomórficas que com idéias distintas se devoram até tornarem-se iguais. E isso é feito de modo incrível.

A segunda (a melhor na minha opinião) é uma das mais belas realizações que já vi no cinema. Na primeira parte temos duas estátuas de barro fazendo o que claramente é um ato sexual (lindo). Depois resta algo deles (fica a entender se são os fluidos orgânicos resultantes ou se é um embrião), e ninguém quer aceitar aquilo para si. Provavelmente é mesmo um filho, e temos aí uma parábola a respeito da paternidade.

A terceira traz duas cabeças de argila que interagem bem entre si, até que mudam de lugar e as coisas deixam de dar certo. Um retrato da fragilidade das interações humanas.


Qualquer problema com o vídeo, como ter sido deletado, por favor nos avise nos comentários.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Curta-metragem: French Roast (idem) - 2008; simpático e colorido

Sei que nos últimos dias ando fazendo algo incomum, que é publicar vários curtas-metragens no blog.
Não vou mentir, ando sem tempo nesses últimos dias, e não estou conseguindo tirar duas horas para ver filmes e mais tempo para resenhá-los. Mas vir aqui e falar a vocês sobre curtas legais não leva muito tempo, e acho que é melhor para mim e para vocês leitores eu fazer isso que simplesmente não publicar nada.
Mas acho que isso tem seu lado muito vantajoso, que é fazer com que vocês valorizem mais os tão esquecidos curtas-metragens.
Peço paciência a todos, e tão logo tenha tempo vou resenhar sobre algum longa.
Um abraço a todos.

French Roast (French Roast), lançado em 2008.
Um filme de Fabrice Joubert.
Dizem que as aparências enganam. E isso é uma verdade. French Roast aborda isso de um modo muito divertido em apenas oito minutos.

Num café parisiense um homem de aparência burguesa pede uma xícara de café. Na hora de pagar ele se dá conta que não tem dinheiro, e nessa saia justa ele tenta arrumar dinheiro e vive inusitadas situações.

Apesar da trilha sonora divertida, uma aparência alegre e colorida e uma história realmente cômica, este curta acaba nos dando uma lição de moral muito válida, que não vou contar qual é para não perder a graça, e também porque ela está bem explícita. O trabalho num todo é muito bom, a paleta de cores inteligente, o uso legal do 3D (que felizmente não se esforça para criar verossimilhança em excesso), e as expressões faciais, sutis mas eloquentes, dos personagens. Uma jóia!



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segunda-feira, 24 de junho de 2013

Elefante (Elephant) - 2003; uma visão documental e indiferente sobre uma tragédia

Elefante (Elephant), lançado em 2003.
Um filme de Gus Van Sant.
Este vencedor de uma Palma de Ouro é o tipo de filme que divide o público. Eu próprio não tenho certeza se gostei ou não. Nele temos o diretor de Milk: A voz da igualdade passivo e indiferente à trama. Isso tanto pode despertar a curiosidade do público quanto entediá-lo. Cheguei a comentar com um amigo meu que este filme me pareceu tentar criar uma vanguarda de mal gosto no cinema, mas há algo de muito bom aqui. A verdade é que me entediei com os dois primeiros terços do filme, mas adorei o último ato. Elefante é baseado numa tragédia real.

Numa conceituada escola de ensino médio dos Estados Unidos os alunos vivem sua rotina de modo comum, uns sofrem bullying, outros o praticam, uns têm problemas com a família, outros são tímidos, uns vomitam o que comeram para não engordarem, outros fotografam, alguns namoram etc. E dois deles compram armas pela internet, com o objetivo de matar alguns colegas e professores.

Elefante nos convida à uma reflexão. Apenas inspirado na tragédia de Columbine, sem procurar retratá-la, Van Sant procura criar o ambiente de uma escola de ensino médio, com toda sua dinâmica, num dia aparentemente normal, onde cada um segue sua rotina sem imaginar no que está prestes a acontecer. A narrativa é toda fragmentada, e alguns acontecimentos são retratados mais de uma vez, de ângulos diferentes, de pontos de vista diferentes. Tudo na maior normalidade, o que desperta a atenção de uns, cansa outros.

A juventude é uma fase linda da vida, mas para alguns é um verdadeiro conto de horror, principalmente na escola, onde ficam a mercê de julgamentos e da violência de alguns colegas incapazes de compreender as diferenças. Os personagens percorrem os corredores com suas angústias, seus sonhos, suas frustrações. Estão num momento de amadurecimento, na descoberta de seu próprio eu. Mas suas histórias não são aprofundadas, vemo-os de relance, como intrusos nesse momento. Somos impelidos a criarmos estereótipos, o grupo das patricinhas, o dos nerds, dos gays, dos esportistas arrogantes. Mas no final um soco no estômago faz-nos repensar, mais uma vez, que todos somos iguais, com defeitos e qualidades, alegrias e problemas. Durante sua duração o final vai se tornando previsível, mas não deixa de ser doloroso, de abalar.

O filme como um todo é neutro, não julga ou moraliza, apenas apresenta os fatos, daí a forte semelhança com um documentário. Mas mesmo assim nos faz pensar sobre grandes problemas da sociedade, sobretudo a indiferença para com os jovens, que não costumam serem ouvidos quando estão se sufocando. Há de se notar que a juventude anda vazia, banal, pessimista. Isso inclusive reflete na fotografia, estática, observadora, indiferente (reparem que nos corredores a iluminação se modifica várias vezes, e o ajuste da câmera não procura acompanhar muito essas mudanças).

Vale a pena assistir Elefante, é um filme diferente. Há a chance de amá-lo e a chance de odiá-lo.

#ficaadica

sábado, 22 de junho de 2013

Curta-metragem: Vincent (idem) - 1982; excêntrico, pertubador e divertido

Vincent (Vincent), lançado em 1982.
Um filme de Tim Burton.
Vincent é o primeiro trabalho em stop motion do renomado Tim Burton, que assina títulos como Edward mãos de tesoura, Alice no país das maravilhas A noiva cadáver

Este divertido e assustador curta metragem, preto e branco, é temperado com uma alta dose de excentricidade e estilo pessoal do diretor. Acompanhamos a história de um garoto "bipolar" chamado Vincent Malloy que adora histórias de terror e se imagina na pele do famoso ator Vincent Price , astro de filmes de terror do passado. É portanto uma genuína e bela homenagem do diretor ao seu ídolo, que aceitou o convite para narrar o curta.

Prepare-se para um curta praticamente perfeito.



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quinta-feira, 20 de junho de 2013

Curta-metragem: A casa de pequenos cubinhos (Tsumiki no ie) - 2008; simples e emocionante

A casa de pequenos cubinhos (Tsumiki no ie), lançado em 2008.
Um filme de Kunio Katō.
Este pequeno filme é um dos melhores curtas que já assisti. Do japonês Kunio Katô, A casa de pequenos cubinhos é o vencedor do Oscar de melhor curta de animação de 2009; e têm motivos para o prêmio.

Com um desenho simples, feito a mão e com cores pouco vivas (o que a início pode-se fazer com que subestimemos a obra), e com uma trilha sonora magnífica porém simples, o diretor nos conta a história de um velho, que tendo crescido numa cidade a beira mar teve a casa sendo engolida pelas águas com o passar do tempo. Para contornar a situação ele constrói, de tempos em tempos, um novo andar; e se muda para cima fugindo da água. Um dia seu cachimbo cai na água, e ele decide mergulhar para reencontrá-lo. Na viagem ele faz um encontro com o passado e resgata lembranças e sentidos.

A nostalgia, a saudade, o amor e os traços do tempo nos proporciona uma viagem fantástica e muito, muito emocionante, ao passado. É um belíssimo conto sobre a vida humana, como precisamos sobreviver a um mundo hostil e como as lembranças são capazes de nos emocionar e nos tornar felizes. 



Por favor, qualquer problema no vídeo (fora do "ar"; deletado), avise-nos nos comentários.

terça-feira, 18 de junho de 2013

A primeira noite de um homem (The Graduate) - 1967; divertido e cativante

A primeira noite de um homem (The Graduate), lançado em 1967.
Um filme de Mike Nichols.
Um ano depois de dirigir o inesquecível Quem tem medo de Virgínia Woolf?, Mike Nichols nos entrega The Graduate, um filme provavelmente também inesquecível, que comanda com estilo e bom gosto. É uma divertida comédia romântica que envolve Dustin Hoffman na pele de um jovem educado, virgem e meio tímido que acaba de sair da faculdade, vivendo a transição da juventude para a vida adulta; Anne Bancroft na pele de uma alcoólatra misteriosa e profundamente sedutora; e Katharine Ross como uma amável estudante.

Benjamin (Hoffman) acaba de se graduar, mas não sabe o que vai ser feito de sua vida dali adiante. Ele recebe uma festa de formatura, onde timidamente evita os convidados. A esposa do sócio de seu pai pede para que ele faça a gentileza de a levar para casa. Ele faz isso e relutante aceita o convite para entrar. Acontece que a Sr. Robinson (Brancoft) estava o tempo todo tentando seduzí-lo. É uma mulher mais velha que ele, mas seu olhar misterioso e suas falas minimalistas são profundamente sedutoras. Ele, preocupado com as consequências de ir para a cama com a esposa do sócio do pai, foge, mas dias depois ele telefona para ela dizendo que quer sair com ela. Eles se tornam amantes, até que Elaine (Ross), filha dos Robinson, aparece na trama e abala o relacionamento dos dois.

Grande parte das chamadas comédias românticas, sobretudo as que se produzem hoje em dia, não costumam valer muito a pena, já que na maioria das vezes temos histórias banais que só interessam a adolescentes - se bem que sou um adolescente; meio diferente da maioria, é certo, mas ainda um jovem de 17 anos e alguns meses. Porém The Graduate realmente é um bom material, cheio de acertos, com um enredo inteligente, boa trilha sonora e legítima linguagem de cinema, com ângulos ousados de câmera, jogos de focagem da lente e uma iluminação funcional, que inclusive trabalha para envelhecer Anne Brancoft. Além de uma montagem com sequências e cortes muito interessantes.

Dustin Hoffman estreou no cinema com este filme, e seu trabalho é notável. Ele consegue dar todo um carisma ao personagem, mesmo ele sendo um ser egoísta e burro. Benjamin é egocêntrico e perde oportunidades importantes na vida, mas sua ingenuidade é tão cativante que ele se torna um ser carismático cujos defeitos acabamos por ignorar. Anne Bancroft vive, talvez, a personagem mais sensual do cinema da década de 60. É inacreditável o que ela faz. E a doce Elaine ganha vida com Katherine Ross, em seu segundo papel no cinema.

Algumas falhas também existem. A relação entre Elaine e Ben não é muito bem desenvolvida no roteiro, e várias cenas envolvendo os dois acabam tendo pouco sentido, já que as tropeços a história avança sem eles terem uma conversa significativa que possa justificar a reconciliação. Mas nada que ofusque o brilho deste clássico.
#ficaadica

domingo, 16 de junho de 2013

A Força do Carinho (Tender Mercies) - 1983; a fragilidade das relações humanas

A Força do Carinho (Tender Mercies), lançado em 1983.
Um filme de Bruce Beresford.
Em Tender Mercies Robert Duvall tem uma interpretação discreta, feita com os olhos. Foi a segunda vez que ele atuou num roteiro de Horton Foote (a primeira foi numa rápida aparição em O sol é para todos), e depois de vários sucessos no cinema e indicações ao Oscar em filmes como O poderoso chefão, MASH, Rede de Intrigas Apocalypse Now ele levou pela primeira vez a estatueta. 
Beresford é o diretor de Conduzindo Miss Dais, produzido seis anos mais tarde. Os dois filmes têm a semelhança de narrarem aventuras e desventuras de gente comum e desenvolver os personagens até extrair cada emoção humana possível. No entanto este filme não é tão bom quanto eu esperava.

Mac (Duvall) é um cantor e compositor de música coutry divorciado destruído pelo álcool. Um dia ele se vê sem dinheiro para pagar sua estadia em um motel, e se oferece para trabalhar para a dona, a viúva Rosa, que exige que não beba enquanto trabalha. Ele continua no emprego e aos poucos larga o vício, e se casa com Rosa. Quando sua vida parece tomar bons rumos aparecem pendências com a antiga família.

Beresford acerta no ritmo da narrativa, intensa mas sem melodrama, e na sua capacidade de extrair dos atores seu máximo - inclusive Duvall, com quem não se entendia no set de filmagens. A fotografia é clara, mas não muito colorida, afinal estamos numa região árida e triste do Texas, onde as pessoas andam com chapéus de vaqueiro e botas, o tempo todo. Mas a tristeza maior está nos personagens. Mac lamenta os rumos que deu na sua vida e sente saudades da filha, que não vê por anos. Quando encontra Rosa ele tem a oportunidade de redenção e expiação. Ela é uma viúva que sozinha cuida do filho, um garoto curioso que quer sempre saber como era seu pai e como ele morreu no Vietnã. As respostas que recebe são sinceras, mas nada pode tapar a lacuna de ter crescido sem um pai. Sem um pai cresceu também a filha de Mac, que agora que é maior de idade tenta alguma reaproximação, contrariando a mãe, uma bem sucedida cantora. É um filme sobre como a vida é imprevisível e inconstante e sobre como as reações humanas são complexas e frágeis.

O grande pecado da produção fica por conta da montagem, nem sempre está tudo no seu melhor lugar, e não raras vezes as cenas sofrem cortes bruscos sem motivo aparente (vide briga do garoto, ainda no início do filme). O público também pode ficar um pouco confuso com pulos para o futuro, onde em menos de um segundo passam-se vários meses e já temos duas pessoas casadas. Isso mesmo, felizmente não somos obrigados a presenciarmos a cerimônia de casamento, afinal há coisa melhor na trama para ser desenvolvida.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

O Baile (Le Bal) - 1983; uma celebração à paixão, à alegria, à música e à vida

O Baile (Le Bal), lançado em 1983.
Um filme de Ettore Scola.
Pode parecer bobagem e contraditório, mas Le Bal é um musical mudo.
Não existem falas, e ninguém canta nem mesmo uma cantiga. Porém em todo o comprimento da película há um variado repertório musical. E os atores bailam. 
Toda essa excêntrica teatralidade pode parecer pouco promissor, mas não subestime este filme; é um dos mais eloquentes que já vi; que de um modo muito sutil e poético celebra a vida e as emoções humanas. Sem contar a linda homenagem à música.

Estamos num salão de dança da França, onde várias mulheres acabam de chegar. Logo chegam também os homens, e alguns pares começam a dançar. Por meio da música, da dança, das roupas e das memórias das pessoas, acompanhamos um pouco da história do país e da vida de algumas pessoas, bem como seu amadurecimento e paixões.

Repito, não subestime este filme. Apesar da teatralidade e de se concentrar num único cenário - mas o movimento e os personagens são tantos que não deixam a experiência claustrofóbica -, O Baile é genuíno cinema, apenas criado com referência ao teatro. Algumas coisas são inverossímeis, mas não ofuscam nem um pouco o brilho da produção.  Ettore Scola brinca com as emoções do público e conta uma história sem dizer nem uma palavra.

Com uma trilha sonora maravilhosa e constante de Vladimir Cosma, o filme é uma delicada aula de história, e mais que isso uma expressão inigualável de arte. É a dança um dos melhores meio de expressão humanos, e aqui ela se une a um contexto e principalmente a semblantes e olhares para contar a história, sem dizer única palavra. O baile se inicia nos anos 80, no fim da disco, mas volta no tempo, nos anos 30, e começa a seguir o tempo, até retornar aos anos 80. Nesse trajeto passamos por baladas francesas, jazz, música latina, rock, tango, pela criação da frente popular, pela ocupação nazista na II Guerra, pelo Maio de 68. Os diálogos são não-verbais, porém são completos, fruto do trabalho impressionante de atores incrivelmente expressivos.

Os sentimentos humanos como alegria, paixão, ciúme, desilusão, medo, solidão etc têm espaço garantido na trama. As cenas mais interessantes são os impagáveis flertes do início da película; a cena em que a atriz Liliane Delval envelhecida com cabelos brancos dança com um brilho terno inenarrável no olhar antes de iniciar o flash-back e ela reaparecer dançando jovem e alegre, com longos cabelos anelados; e quando o garçom acorda a mulher forever alone para pedir que se retire e ela pensa que alguém está a tirando para dançar.

Só mesmo assistindo a Le bal com o coração aberto pode-se deliciar o que ele oferece. Seu único defeito é ficar monótono em raras ocasiões. Imperdível para quem gosta de novas experiências cinematográficas.

#ficaadica

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Farrapo Humano (The lost weekend) - 1945; o alcoolismo de modo visceral no cinema

Farrapo Humano (The Lost Weekend), lançado em 1945.
Um filme de Billy Wilder.
Billy Wilder foi uma lenda dos anos dourados do cinema. Com vários prêmios conquistados pelos mais variados sucessos de público e de crítica, serviu como inspiração para vários cineastas de sua e das gerações seguintes. Se dava bem com os dramas e com as comédias. Em Farrapo Humano o diretor que também ajudou na criação do roteiro conta uma história dramática de um homem dependente da bebida alcoólica. 

Don é um escritor fracassado, que devido ao bloquei criativo passou a consumir cada vez mais bebida, a ponto de se tornar um alcoólatra. Depois de uma longa tentativa de recuperação ele ainda não está curado. Um dia ele fica sozinho em casa, depois de um conflito com o irmão que tenta afastá-lo do vício, e nisso entra num processo de degradação física, social e moral em busca da desejada garrafa. Enquanto isso sua esperançosa namorada tenta em vão ajudá-lo.

Na época de depressão pós guerra e pós crise econômica que o filme foi lançado, o que mais havia em Hollywood eram produções alegres e otimistas, que tentavam levantar o ânimo da população e retomar o sonho americano. Farrapo Humano chega então com um drama carregado de medo, angústia, dor e sofrimento, muito distante do entretenimento e escapismo que maioria das pessoas queriam. Apesar do tiro no escuro, o filme foi um sucesso de crítica e de público e levou o Oscar.

Até então os bêbados eram estereotipados no cinema, e apresentados como criaturas divertidas e benévolas. Aí pela primeira vez na história o cinema abordou o alcoolismo como uma doença e reproduziu todo o caos e sofrimento que o problema traz à sociedade.

Além da direção sutil e constante de Wilder, o maior trunfo da película é o trabalho de Ray Milland, que mesmo num época de cinema mais teatral, consegue ser verossímil e transmitir uma tristeza e desespero enorme de sua figura. Enquanto procura por bebida seus cabelos estão desgrenhados, mãos trêmulas e olhares arregalados, revelando a enorme degradação que enfrentou. A namorada interpretada por Jane Wyman é uma mulher doce, paciente e apaixonada.

É um filme de grandes momentos, sobretudo a cena do morcego e o da sombra da garrafa sobre o lustre. É decepcionante porém o final, um deslize feio do roteiro que quebra a constância criada até então e dá um desfecho fantasioso. Mas vale muito a pena conhecer este grande clássico.