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sábado, 31 de agosto de 2013

Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption) - 1994; um dos mais aclamados dramas de prisão

Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption), lançado em 1994.
Um filme de Frank Darabont.
Tido como a maior injustiça da história do Oscar, este filme, que em seu lançamento não levou muita gente aos cinemas, tornou-se rapidamente um clássico queridíssimo do público e dos críticos. É sem dúvida um grande filme, mas eu esperava um pouco mais. E realmente acho que Forrest Gump ou mesmo Pulp Fiction mereciam a estatueta mais que ele.

Acusado de matar a esposa e seu amante, o banqueiro Andrew Dufresne (Tim Robbins) é condenado a prisão perpétua em 1946. Chegando na prisão ele vai conhecer o contrabandista "Red" (Freeman) e criar uma sincera amizade. Pararelo a isso ele se torna influente na prisão e passa a prestar serviços contábeis para os agentes e para o cruel diretor da prisão.

A melhor coisa do filme é Morgan Freeman, de longe a melhor atuação, e mais carismático que o protagonista. Mas também a ele se deve um grande furo do filme: o voice-over; que sempre são perigosas. Embora a narração esteja belíssima na voz viva e doce de Freeman, e dê um ar de melancolia à trama, sem falar em uma certa poesia em momentos pensados para serem poéticos, ela sobra e incomoda, principalmente quando serve para contar o que já estamos vendo na tela, como quando ele explica o que Dufresne fez naquela noite chuvosa com a corda que encomendara.
Tim Robbins, apesar de não tão brilhante, nos entrega um trabalho meticuloso, na pele de um homem misterioso, calmo e calado. Ele passa seus dias de confinamento lutando para manter a esperança e aceitar pequenos remorsos. Os dois vivem uma amizade leal, na qual um inspira sobrevivência no outro. 
O trabalho de montagem bem como a própria estrutura do roteiro são bem inteligentes. O tempo passa devagar, as rugas surgem, a idade se aproxima aos poucos. Mas o maior acerto é a sequência de cenas, capazes de manter a atenção do público, sem ser muito previsível. Bom exemplo são os momentos que antecedem o clímax,  tudo leva a crer que vai haver um suicídio, mas o que ocorre é mais interessante e surpreendente. 
O cenário é realista. Filmado no interior mal iluminado de uma prisão abandonada, Darabont nos entrega uma experiência sincera. A fotografia é fria e cinzenta, servindo para acentuar a grande tristeza e solidão do ambiente. Igualmente sombria é a trilha sonora (de Thomas Newman), tirando o momento em que um disco irá tocar e a música voar livre pelos corredores da prisão. É de arrepiar. 

Apesar disso é um filme simples e que segue um estilo tradicional de produção, contando um conto inspirador e belo, mas não mais que isso. Por isso tive uma pequena decepção, esperava algo um pouco mais inovador. Mas repito, é uma excelente película. Um sonho de liberdade merece ser assistido; um filme sobre amizade, esperança, paciência, expiação e liberdade e paz interior.
#ficaadica

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A Fantástica Fábrica de Chocolate (Charlie and the Chocolate Factory) - 2005; uma doce viagem

A Fantástica Fábrica de Chocolate (Charlie and the Chocolate Factory), lançado em 2005.
Um filme de Tim Burton.
Livro que fez parte da infância de muita gente, A Fantástica Fábrica de Chocolate ganha sua segunda adaptação para o cinema pelas mãos de Tim Burton e estrelado por Johnny Depp, numa atuação morna, e Freddie Highmore. Os dois atores já havia trabalhado juntos no ano anterior, em Em Busca da Terra do Nunca.

Charlie (Highmore) é um garoto pobre que adora chocolate; mas é muito raro ele ganhar o doce. Perto de sua casa existe uma enorme fábrica de chocolates do misterioso senhor Willy Wonka (Depp), que resolveu fazer uma promoção inusitada que permite aos cinco ganhadores, dos quais Charlie é um, visitarem as instalações secretas da fábrica.

Tim Burton é conhecido pelos seus trabalhos com temas fantasiosos e oníricos, se sentindo a vontade para criar este delicioso filme, que tinha chances de amargar. O cenário da fábrica é deslumbrante e inventivo, tão capaz de fazer sonhar quanto faz o livro, que fui conhecer já com uma década de vida. Nesse ambiente mágico trabalham misteriosas criaturas, que cantam e dançam para os convidados, mas não sem lhes dar lições de moral para advertir e punir seus maus comportamentos. Isso com figurinos e coreografias variadas. 

O elenco infantil até surpreende, apesar de Freddie Highmore apenas fazer a lição de casa e não mais que isso, sem falar que o seu personagem (também no livro) é tão "perfeito e bondoso" que chega a irritar com a falsidade que isso represent.
Já Johnny Depp desta vez nos entrega uma atuação um tanto cínica e desinteressante, incapaz de passar todo o charme e o mistério que o personagem tem. 

Mas isso não chega a ofuscar o brilho do longa, que encanta crianças e faz rir os adultos com algumas piadas ocultas. Impossível não mencionar o feito épico que foi treinar dezenas de esquilos, algo já feito no seu antecessor; confiram.

#ficaadica

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Curta-metragem: Um Cão Andaluz (Un Chien Andalou) - 1929; o marco do surrealismo no cinema

Um cão andaluz (Un Chien Andalou), lançado em 1929.
Um filme de Luis Buñuel.

No início do século XX eclodiu na Europa diversas vanguardas artísticas. Um desses movimentos foi o surrealismo, corrente que defendia que o subjetivo, o onírico, o irreal criado pela mente, era uma arte livre, liberta das amarras do racionalismo; impulsionada pelo nascimento da psicanálise de Freud.
Dos artistas surrealistas, dois dos mais conhecido eram o artista plástico Salvador Dalí e o cineasta Luis Buñuel, ambos espanhóis. Os dois assinam este curta-metragem, o primeiro filme da carreira dos dois.

Quase totalmente sem nexo e confuso, com uma narrativa não linear, o filme traz vários elementos característicos da vanguarda e simbolismos. Ele rompe com o tradicional, e nos entrega algo novo em plena moralista década de 20.

Confiram esse filme importantíssimo para a história e o desenvolvimento do cinema.
Vale lembrar que o filme original é mudo, e que o áudio do vídeo foi inserido pelo usuário que fez o upload.


Qualquer problema com o vídeo, como ter sido deletado, por favor nos avise nos comentários.

sábado, 24 de agosto de 2013

As invasões bárbaras (Les invasions barbares) - 2003; as frustrações que antecedem a morte

As Invasões Bárbaras (Les invasions barbares), lançado em 2003.
Um filme de Denys Arcand.
Vencedor do Oscar de melhor filme em língua estrangeira, e ganhador do prêmio de melhor atriz em Cannes, para Marie-Josée Croze, este filme franco-canadense é simples e comovente, sem jamais apelar para o melodrama. Cheio de humor, ele mostra um dos personagens de O declínio do império americano à beira da morte. Não é preciso, no entanto, conhecer seu antecessor.

Rémy (Rémy Girard) é um velho professor de história, que em sua juventude amou o vinho, a política de esquerda e principalmente as mulheres. Agora ele está doente e seu filho Sébastien (Stéphane Rousseau), que mora em Londres, volta ao Canadá para ajudá-lo. Porém ele não acompanhou o crescimento do filho, por ter se divorciado, e agora as feridas de um e do outro começam a arder.

Les invasions barbares é um filme encantador, cujos personagens cativantes, ainda que cheios de defeitos, precisam perdoar uns aos outros e principalmente ser perdoarem. Rémy é teimoso, antiquado e mulherengo, mas também é inteligente e bem humorado, capaz de piadas ácidas e primorosas até no leito de morte. Ele nunca desistiu do filho, mas deixou sua presença de modo sutil, e agora o filho, que tem o oposto de sua personalidade, o procura no hospital a pedido da mãe. Mas aos poucos o ressentimento vai dando lugar a uma ternura, e o garoto, treinado no mercado financeiro, vai comprar o quê ou quem for preciso para dar uma morte tranquila ao pai. Seu maior feito será trazer alguns dos melhores e mais antigos amigos do pai para perto. Mas também irá cometer pequenos crimes, como subornar todo um hospital público superlotado, e conseguir heroína para amenizar a dor do seu velho. Nessa parte entra Marie-Josée Croze, como uma viciada na droga.
 
Os velhos amigos vão fazer o possível pelo bem-estar de Rémy e relembrarão de suas juventudes regadas a sexo e a ideologias políticas. Está aí um ponto positivo: o mundo é contemporâneo, tempo de conversar no computador por satélite, mas os personagens lembram com nostalgia de suas vidas; mesmo o doente que se questiona se sua vida valeu a pena e fez por merecer.

 O filme nos manipula para nos comover, mas com nada forçado ou absurdo, ele permanece honesto com seu próprio contexto. Expiação, perdão, nostalgia, morte.
A temática é o fim da vida, mas com uma ironia alegre, é uma pequena celebração dela. Engraçado; mas profundamente meditativo e sensível.

#ficaadica

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A Ilha (The Island) - 2005; vazio como estava fadado a ser

A Ilha (The Island), lançado em 2005.
Um filme de Michael Bay.
Se tem um nome na indústria cinematográfica que leva muita gente a torcer o nariz é Michael Bay. Responsável por alguns sucessos de bilheteria que no entanto, do ponto de vista artístico, são grandes porcarias, A Ilha é mais um filme com sua marca registrada: dispensável e profundamente vazio. Quem não o conhece que o compre.

Em meados do século XXI, uma corporação cria clones humanos para servirem de doadores de órgãos para seus originais. Vivem sob a história de que são os poucos sobreviventes de um virus mortal que existe lá fora, e que apenas um lugar, chamado de "A Ilha", está livre de contaminação e é para onde são mandados os ganhadores da "loteria", que na verdade estão indo para a mesa cirúrgica.

Com uma premissa razoavelmente interessante como esta, o filme, nas mãos de outro, poderia até ter dado certo. Mas como estamos falando de Bay; os clichés do filme, entre eles cientistas maus e corporações sinistras; são agravados com um roteiro furado como uma peneira de assoprar café.

O início chega a ser promissor, embora não pareça nada muito novo para nossos olhos. Mas a questão moral e a reflexão sobre os passos da humanidade que poderiam ter sido abordadas e gerado um drama de ficção decente, como fez Não me abandone jamais poucos anos depois - com uma trama um pouco parecida -, dá lugar a uma interminável perseguição a Ewan McGregor e Scarlett Johansson, que fugiram do complexo. A dupla de atores faz o que pode para melhorar o filme um pouco. Nesta segunda parte que você vê de quem é o filme, supondo que estivesse ainda na ignorância: explosões, tiros, explosões, ação absurda e tola, explosões; a cara do diretor. 
A trilha sonora é incessante e o roteiro vazio e sem diálogos interessantes acaba de se afundar. O que precisa ter sido mostrado não foi, e o que não precisava ser explicado é jogado na cara do público, como se ele fosse idiota ou cego. Um ponto a menos para Michael Bay.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Curta-metragem: Adão e o cão (Adam and dog) - 2011; silencioso e pensativo

Adão e o cão (Adam and dog), lançado em 2011.
Um filme de Minkyu Lee.
Eu queria ter colocado esse curta no blog meses atrás, neste post. Mas na época eu não estava encontrando este vídeo com qualidade decente, em nenhum lugar na net. Mas estou aprendendo onde procurar; antes tarde que nunca. Deliciem-se.

Adão e o cão é um releitura do Gênesis da Bíblia, onde irá aparecer um cão. O filme então se passará sob o ponto de vista do animal (não se preocupe, o cão não fala). Porém, felizmente, não é um filme religioso.

Dos concorrentes este era um dos mais belos e peculiares. Ele lembra um pouco a Luz Silenciosa, não é um filme para todos os públicos, é preciso respeitar seu tempo, não exigir muito dele, apenas se deliciar sem ansiedades. É lento, monótono, quase sem trilha sonora; apenas com os sons da natureza. Bidimensional, visualmente é belíssimo. Enfeitiçante e sensorial. Um filme para se contemplar.

Só por curiosidade: pesquisando sobre o curta vi uma tese muito interessante, na qual diz que o Dog, mesmo sendo abandonado por Adam, não quis se separar dele, enquanto o "bom e misericordioso" God simplesmente o expulsou do Éden, logo após a primeira falha. A antítese estaria no nomes invertidos e na diferença de ações.


Qualquer problema com o vídeo, como ter sido deletado, por favor nos avise nos comentários.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Curta-metragem: The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore - 2011; uma homenagem à leitura

The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore (The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore), lançado em 2011.
Um filme de William Joyce e Brandon Oldenburg.
Todo mundo já ouviu dizer que os livros nos dão assas. Este belíssimo filme parte dessa premissa para criar uma maravilhosa homenagem ao mundo da literatura.

Visualmente deslumbrante, com uma trilha sonora impecável e um estilo meio retrô, nostálgico, que também lembra o cinema das décadas de 30 e 50 (parte do filme é preto e branco e o protagonista tem uma bengala e um chapéu, como o de Cantando na Chuva); este filme levou para a casa, em 2012, o Oscar de melhor curta de animação.

Você nunca mais vai querer menosprezar aquele livro velho e surrado da biblioteca. Livros são imortais, estão vivos enquanto ainda podem ser lidos. E seus autores, por meio deles, também se tornam imortais.
Assista, se emocione e corra até a biblioteca.

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sábado, 17 de agosto de 2013

E.T. - O Extraterrestre (E.T. the Extra-Terrestrial) - 1982; nem lá nem cá

E.T. - O Extraterrestre (E.T. the Extra-Terrestrial), lançado em 1982.
Um filme de Steven Spielberg.
Gostaria de ter assistido este filme quando era criança. Não teria visto este clássico do cinema - aclamado com convicção e um verdadeiro sucesso de bilheteria - com tanto ceticismo. Lançado no início da década de 80, ele revolucionou o modo de fazer fantasia no cinema. É um filme infantil que só agrada aos adultos que cresceram com ele; marmanjos de primeira viagem, como eu, provavelmente o acharão enfadonho, apesar de possuir algumas belíssimas cenas - em especial a famosíssima e inesquecível cena da bicicleta no luar, que veio a se tornar o símbolo da DreamWorks, a produtora de Spielberg.

Uma nave espacial veio, não se sabe de onde, à Terra e acabou esquecendo um dos seus tripulantes aqui. Elliott, um garotinho suburbano, encontra a criatura espacial e cuida dele em segredo, acabando por criar grande afeição por ele enquanto tenta ajuda-lo a entrar em contato com seu povo, para virem buscá-lo.

E.T. tem tudo quanto é vício e clichê cinematográfico. Provavelmente na sua época não era assim, foi um filme original; mas seu sucesso acabou fazendo com que fosse imitado ao longo dos anos e tudo quanto é filme ruim que passa na Sessão da Tarde tem algum elemento que foi usado em E.T..
Só para começar cito a trilha sonora. Quase ininterrupta, o que torna o filme um tanto irritante, ela força bastante a barra, o tempo todo complementando as cenas que sozinhas não trazem grande emoção. Outra coisa terrível, ao menos na minha opinião, é o uso excessivo e irritante de gelo seco e luz branca, para trazer um miticismo à trama. O tempo todo você verá neblina, fumaça e vapor de gelo seco (é inconfundível) iluminados por alguma fonte de luz. Tipo um show da Madonna.

Como seria previsível, o E.T. é uma criatura feia e desengonçada mas muito carismática, e o protagonista um garotinho ingênuo e benévolo, com problemas familiares mas mesmo assim corajoso e esperto. Temos direito até a um trio de pirralhos colocando no rosto óculos escuros, com expressão de "sou foda", e indo salvar o final do filme, que só poderia ser feliz. O roteiro tem grandes deslizes e cria verdadeiras lacunas entre algumas cenas, além de deixar a dúvida sobre o quê, exatamente, aconteceu entre o alienígena e Elliott, que aparentemente se uniram intelectualmente. Os efeitos especiais, em sua maioria, não surpreendem, mas isso é perdoável, estamos nos anos 80.

Mas há acertos. Não só por algumas cenas brilhantes, mas também pelo elenco mirim bem escolhido, pelo carisma dos personagens, que conquistam o coração do público, pelo bom humor da trama, que é vista pelos olhos de Elliott ou do E.T., por alguns tiros de câmera ousados, pela mensagem de solidariedade e amor que passa.
Não é o melhor filme de Spielberg, mas tendo oportunidade não deixe de assistir, talvez seja eu que já esteja rabugento demais para um filme sobre sonhos de infância.

#ficaadica

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Curta-metragem: Validação (Validation) - 2007; o poder de fazer sorrir

Validação (Validation), lançado em 2007.
Um filme de Kurt Kuenne.
Tendo se tornado um grande sucesso no YouTube, este pequeno filme gravado em preto-e-branco nos mostra com bom humor um homem interessado apenas em fazer o bem, ou mais precisamente, fazer as pessoas sorrirem ao dar elogios sinceros (embora a atuação do ator, neste ponto, me pareceu bastante cínica). 
Ele trabalha num estacionamento validando cartões e elogia as pessoas, desde a aparência até a personalidade, trazendo-o alguma fama. Mas um dia ele encontrará uma bela mulher a quem não conseguirá fazer sorrir.

Validation é um filme charmoso, a fotografia em preto e branco consegue dar ao curta um tom de sobriedade que se contrasta com seu humor mas que também combina com a dramaticidade que em determinados momentos ele adquire. E claramente nos deixa uma mensagem de que podemos promover a diferença e tentar tornar o mundo um pouco menos hostil. Confiram:


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terça-feira, 13 de agosto de 2013

Paris, eu te amo (Paris, je t'aime) - 2006; uma coletânea maravilhosa de filmes

Paris, eu te amo (Paris, je t'aime), lançado em 2006.
Um filme coletivo envolvendo mais de vinte diretores, coordenados por Emmanuel Benbihy.
A história da humanidade se confunde com a de Paris, uma cidade milenar carregada de história e diretamente envolvida no que é o mundo hoje, seja na cultura, na economia, na política. Ela foi importante no passado, e ainda hoje é.

Mas como toda e qualquer cidade, ela nada mais é do que as pessoas que lá vivem. São seus habitantes que lhe dão identidade. Além disso a cidade do amor e das luzes não é perfeita. Sendo hoje uma metrópole com mais de dez milhões de habitantes, ela também sofre com a violência, com o transito caótico, com poluição e com medo, desconfiança ou indiferença entre seus habitantes.

Paris, je t'aime é um projeto onde mais de vinte diretores e dezenas de atores, dos quais muitos conhecidos, realizam curtas-metragens independentes que visam humanizar a cidade; levando por terra idealizações e romantismos, mas sem jamais deixar de mostrar sua inarrável beleza, a humanidade de seus habitantes, que xingam, se estressam, mas também se apaixonam e amam Paris. Não se limitando a mostrar o dia a dia de seu povo, também mostra os turistas e suas impressões sobre a cidade, os imigrantes. 
Tanto isso é verdade que assim como a cidade é inegavelmente multicultural, também o filme é feito por atores de diretores de diversos países, e além do francês temos espanhol, inglês, árabe e até chinês. Não se prendendo somente a crônicas, temos também histórias absurdas, fantasiosas; inclusive um terror-thash.

São vinte curtas-metragens, ambientados cada um num dos "arrondissements" de Paris, uma divisão administrativa que existe lá. Naturalmente, alguns são melhores que outros. Os que mais gostei foram o do brasileiro Walter Salles, que mostra uma imigrante cruzando toda a cidade para poder ir trabalhar, muito comovente; o dos irmãos Cohen, que mostra um turista em apuros no metrô; Bastilha de Isabel Coixet; a belíssima comédia Tour Eiffel de Sylvain Chomet; Place des Fêtes de Oliver Schmitz; o terror Quartier de la Madeleine; Quartier Latin, uma história madura sobre os relacionamentos e por fim o monólogo 14e arrondissement. Mas vale a pena conferir cada uma das pérolas deste filme, tão diferentes entre si, já que são obras de artistas distintos, mas todos empenhados em mostrar um pouco de Paris.

#ficaadica

domingo, 11 de agosto de 2013

Carne Trêmula (Carne Trémula) - 1997; suspense, paixão e ódio

Carne Trêmula (Carne Trémula), lançado em 1997.
Um filme de Pedro Almodóvar.
O pouco que conheci de Almodóvar até agora já me permitiu identificar bem suas marcas pessoais, seu estilo delicioso e hábil de fazer cinema. Sempre com enredos um tanto quanto inverossímeis, mas contados com uma narrativa rápida, poderosa e divertida; com uma fotografia colorida e acastanhada; uma sensualidade que só poderia ser latina -  e com enorme humanidade, que é o principal para deixar essa mistura tão bela, este diretor espanhol nos ensina a fazer cinema com tramas absurdas, sem jamais parecer cínico ou excessivo.

Penélope Cruz é uma jovem prostituta que acaba de dar a luz à Victor. Vinte anos mais tarde ele (Liberto Rabal) transa num banheiro com Helena (Francesca Neri), perdendo, então, sua virgindade. Mas no final de semana seguinte, quando torna a procurá-la, ela o rejeita. Armará-se então uma trama os envolvendo com dois policiais e a esposa de um deles.

Já no começo o filme surpreende. Com a cena de um parto mais peculiar que já assisti até hoje (embora a cena contribua pouco na trama), Almodóvar, que também co-assina o roteiro, já revela o ritmo que embalará a película ao longo de seus cem minutos, cheia de amor, tragédia e sexo.
E ele não tropeça, o ritmo permanece e as surpresas que prendem o público também. O enredo dá reviravoltas imprevisíveis, mas inteligentes e condizentes com os personagens, muito bem desenvolvidos pelo argumento e explorados pelos atores, em especial Javier Bardem, Ángela Molina e Francesca Neri. Em seus olhos vemos amor, desejo, ódio, pena, remorso e obsessão. A fotografia é bela, com planos incríveis desde um ônibus visto ao longe até o tremor dos corpos em êxtase.

Nisso o filme toma uma forma de thriller, embalado por uma trilha sonora genuinamente espanhola, mas sem jamais perder sua sensualidade, seu amor e seu bom humor. Sem jamais deixar de lado o que Almodóvar tem de bom para oferecer - dizem que este foi o primeiro dos bons filmes do diretor, que antes disso, repito, dizem, só fazia filmes estúpidos.

#ficaadica