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sábado, 30 de novembro de 2013

Sade - Lovers Live - 2002; o registro ao vivo de uma carreira impecável

Lovers Live, lançado em 2002. Apresentação ao vivo de Sade.
Direção de Sophie Muller. Gravado em setembro de 2001 no Arrowhead Pond; Anaheim e no Great Western Forum; Inglewood.
Não sei se eu sou uma pessoa meio anormal, mas sempre que ouço músicas como Your Love is King e Sweetest Taboo sinto um arrepio de prazer. Nessas horas penso que vale a pena ter nascido só para poder ter conhecido tais músicas, e que se eu morresse naquele instante morreria feliz e em paz.

Formada pela vocalista Sade Adu e os músicos Stuart Matthewman, Paul Spencer Denman e Andrew Hale, essa banda britânica ganhou o mundo nos anos 80 com seu disco de estréia Diamond Life - que para todos os efeitos é o melhor disco que já conheci. De lá para cá sua carreira de mais de 30 anos se manteve impecável, e só no Brasil já vendeu 2 milhões de discos.
Suas músicas continuam modernas e fazem sucesso nas rádios ainda hoje, e oferecem sofisticação e erotismo que rompe as barreiras da catalogação de gênero. É o tipo de música que não envelhece, que não tem data de validade, atemporais. A própria cantora, já com mais de 50 anos, também envelheceu bem: continua linda e sensual. O mistério que ela mantém em torno de si só aumenta sua sensualidade. Sade Adu e sua banda parecem incapazes de gravar um disco ruim.

Lovers Live é o aclamado registro ao vivo de todo esse sucesso. Gravado nos EUA nos dias 20 e 21 de setembro de 2001, em duas apresentações distintas, o DVD traz 22 canções em duas horas de show.

Sutil, mas extremamente carismática, Sade Adu mostra uma presença de palco incrível, sem precisar para isso ostentar fascínio ou abusar de efeitos especiais e figurinos extravagantes (não que a parte de iluminação e o telão estejam ruins, muito pelo contrário). Cantando descalça ela resgata alguns de seus maiores sucessos (a maioria ela ajudou a compor) e também parte do álbum Lovers Rock, cuja divulgação rendeu a turnê registrada no DVD. Além dos colegas de banda o show traz ainda músicos convidados.

O show começa com a sombra de uma silhueta sobre uma cortina, dançando e cantando os primeiros versos de Cherish the Day. Depois a voz aveludada e sensual embala um dos maiores sucessos da banda, Your Love is king; nessa hora o público vai ao delírio ao reconhecer os embalos de um dos riffs de saxofone mais sexys dos anos 80. A música ganhou um arranjo ainda mais libidinoso, que junto com o olhar misterioso da vocalista é um verdadeiro feitiço. Esse feitiço continua por todo o show, mas um de seus ápices é em Smooth Operator, o maior hit da história do grupo, que fala sobre um garoto de programa.
É com Jezebel e Cherry Pie que ela mostra seu lado mais melancólico, e talvez imprime mais de sua personalidade. Uma das melhores apresentações é Kiss of Life, nessa hora vemos passagens da platéia olhando enfeitiçada, dançando e cantando junto cada verso de uma das melhores músicas de Sade.
Sweetest Taboo é um dos momentos mais animados, até porque também é uma das canções prediletas do público. Os backing vocals Leroy Osbourne e  Tony Momrelle deixam o fundo do palco e se juntam à cantora no centro do palco para dançarem, os músicos dançam, brincam com os instrumentos. De bônus vemos as belas pernas da cantora atrás da fenda do vestido.

Já na segunda parte do DVD, ela canta Flow e depois embala It is a crime, que começando muito lenta e melancólica vai se tornando mais rápida até chegar no refrão. Durante essa música é que temos o melhor solo de guitarra do DVD com o guitarrista Ryan Waters quase a ter um orgasmo enquanto toca, isso depois de Stuart Matthewman fazer as preliminares com seu sax. Depois Adu encerra a música mostrando que se suas canções não são cheias de fírulas é por opção, não por falta de voz. O público aplaude de pé. O disco conta ainda com músicas como Paradise, Somebody Already Broke My Heart, Sweetest Gift, By Your Side e, claro, No ordinary love.

Karl Vanden Bossche faz um incrível trabalho de percussão, só de ler seu nome me lembro de seus cangás tremulando. O baixo de Paul S. Denman e os teclados de Andrew Hale dispensam apresentações. E a bateria de Pete Lewinson é enérgica e viva.

Há quem diga que Sade é música de motel. Dizer isso é subestimar a banda, porém é inegável a extrema sensualidade de boa parte de sua obra. Ouvir a voz aveludada da vocalista é quase como sentir o roçar de um lençol de cetim na pele e a percussão das músicas é quase um tremor de prazer sexual. 
Este DVD tem o poder de te deixar com um sorriso no rosto, mesmo que não seja fã.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Amor além da vida (What Dreams May Come) - 1998; horrendo

Amor além da vida (What Dreams May Come), lançado em 1998.
Um filme de Vincent Ward.
Não ando tendo sorte com Robin Williams. Os últimos filmes com ele que assisti não me agradaram muito, embora a culpa não seja dele (ou pelo menos não toda a culpa). No horrendo Amor além da vida ele vai viver uma história surreal e espiritualizada inspirada na medieval Divina Comédia de Dante. 

Um casal é abalado com a morte das crianças em um acidente. Anos depois o marido morre também. Quando ele chega ao paraíso ele reencontra seus filhos. Mas logo fica sabendo que sua esposa, desesperada com sua morte, se matou, e por isso foi mandada ao inferno. Ele então vai até lá para tentar salvar a alma de sua esposa.

Embora o filme tenha grandes acertos na parte visual, com cenários incríveis que por vezes lembram pinturas a óleo, aquarelas ou afrescos de artistas da Renascença, cheios de cores e texturas que parecem que podem ser sentidas caso você levante a mão e alise a tela, o filme desliza feio em todo o resto, a começar pelos títulos horríveis; tanto o original quanto o brasileiro.
Ward tenta fazer um filme espiritualizado que não se limite a uma só crença. Mas obviamente não consegue. Ele cria um paraíso comandado por um deus monoteísta e cria nada mais que um sermão religioso cristão e chato. Seu roteiro teológico se confunde com um drama banal e piegas, cheio de pequenas coisas que tentam desesperadamente arrancar lágrimas da platéia. O resultado é desconcertante e chato, profundamente chato. As lições filosóficas, de redenção e de carpe diem (expressão horrendamente eternizada na voz de Robin Williams) estão muito longe de darem certo. São banais e esquecíveis.

A atuação contida de Robin Williams, nem das piores nem das melhores, não faz muito pelo filme. Menos ainda faz Annabella Sciorra como a suicida fadada ao eterno sofrimento. Nem vou falar nada de Cuba Gooding Jr.. No fundo só mesmo a fotografia do português Eduardo Serra, que usou um filme especial para criar a saturação de cores, e a equipe dos outros efeitos especiais é que tiram o filme da lama.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Curta-metragem: Alma (idem) - 2009; a curiosidade matou o gato

Alma (Alma), lançado em 2009.
Um filme de Rodrigo Blaas.
A pequena Alma vai encontrar na vitrine de uma loja de brinquedos uma boneca com sua aparência. O que ela não sabe é que esse lugar possui um grande segredo.

Qualquer problema com o vídeo, como ter sido deletado, por favor nos avise nos comentários.

sábado, 23 de novembro de 2013

Melhor é impossível (As Good as It Gets) - 1997; amor e sarcasmo

Melhor é impossível (As Good as It Gets), lançado em 1997.
Um filme de James L. Brooks.
As Good as it Gets segue o estilo da obra-prima de James L. Brooks, Laços de Ternura: um drama agridoce baseado em atuações poderosas. Aliás, essa receita tem acompanhado a obra do diretor. Mas apesar de Melhor é impossível ter seu charme, e também trazer Jack Nicholson como protagonista, não consegue nem se equiparar com Terms of Endearment.

Estamos em Nova York e Melvin Udall (Nicholson) é um romancista de sucesso. Mas ele de romântico tem muito pouco e é extremamente desagradável e mal-educado, além de ter um transtorno compulsivo obsessivo que faz dele ainda mais rabugento e antissocial. Quando seu vizinho gay Simon (Greg Kinnear) é agredido por ladrões e hospitalizado, Melvin fica encarregado de cuidar de seu cachorro, mesmo odiando o animal e o vizinho. Mas com o tempo ele cria um afeto pelo animal, ao mesmo tempo que vai tentar se aproximar de uma garçonete, Carol (Helen Hunt), a única que parece entendê-lo, mas que não aceita suas grosserias.

James L. Brooks também assina o roteiro, que traz diálogos e monólogos muito bons. Principalmente as falas de Melvin. O personagem é escrito como a pessoa mais desagradável que alguém poderia conhecer. Apesar disso, Nicholson consegue fazer o personagem simpático e dá vida a suas falas extremamente ácidas, suas declarações desajeitadas de amor, colocadas a perder com alguma verdade que lhe escapa da boca. Na boca de qualquer outro ator, essas grosserias que nos fazem rir, iria nos escandalizar. Parte desse acerto é resultado da grande empatia que ele consegue com Helen Hunt, que também dá um charme próprio a sua personagem. Os dois contracenando juntos é ótimo. Também o trabalho de Greg Kinnear, no papel de sua carreira, merece ser elogiado.


Apesar disso o filme escorrega numa repetição do roteiro. O filme já é longo, ainda precisamos ver as brigas de Melvin e Carol sempre parecendo muito uma com a outra. O ritmo da película varia muito, entre o tédio e o encanto e a trama, no final das contas, embora com suas peculiaridades, não difere muito de uma outra comédia romântica qualquer. Nem é muito autoral. Além disso a "expiação" de Melvin é bem previsível. E Cuba Gooding Jr. não me parece a vontade com seu personagem.
É um filme leve, para se assistir num domingo a tarde.

#ficaadica

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

E sua mãe também (Y tu mamá también) - 2001; inteligente, sexy e cheio de vida

E sua mãe também (Y tu mamá también), lançado em 2001.
Um filme de Alfonso Cuarón.
Já disse em outras ocasiões que não é raro o cinema latino-americano nos agraciar com ótimas surpresas. Não sirvo para dar lição de moral pois não assisto tanta coisa assim, mas é preciso sair um pouco do eixo EUA-Inglaterra e, saindo, explorar um pouco além do cinema europeu. Brasil, América Latina, Oriente Médio, leste asiático e até África possuem suas pérolas que merecem serem assistidas. Y tu mamá también é mexicano; um filme colorido, atrevido e alegre mas ao mesmo tempo profundamente melancólico e humano.

Dois amigos de classe média alta, depois de suas namoradas viajarem, conhecem a esposa do primo de um deles. Para impressioná-la convidam-na a viajar com eles para uma praia paradisíaca que não existe. Ela recusa no começo, mas depois, abalada com uma confissão, concorda. Então os três irão cruzar o México rural, contando e ouvindo histórias no caminho e enfrentando problemas e conflitos entre si. 

Gael García Bernal e Diego Luna são dois jovens ricos e de espírito livre, que vivem uma vida de prazeres e possuem uma amizade inabalável. Maribel Verdu é a mulher madura cujas asas foram cortadas pela vida mas que se mantém alegre e sensual. Os três embarcam numa viagem na qual vão se autoconhecerem e descobrirem o mundo pobre e colorido do interior árido do país, tão distante de suas abastadas vidas. Vão aprender sobre a dualidade do sexo e sobre a fragilidade da vida e das relações interpessoais.
Embora carregado de cenas engraçadas e piadas inteligentes (vindas de personagens tão infantis que chegam a ser tolos, mas que nos cativam), uma melancolia acompanha o carro. Não sabem tudo um do outro.
Essa tensão agridoce se mistura com sexo, nudez e drogas e gera um retrato fiel da geração jovem da qual fala. Mas não há reprovações ou julgamentos. É um conto de amadurecimento (que não é forçado pela presença da mulher feita), mas acima de tudo é uma celebração da juventude.

O filme de Cuarón consegue até acertar com uma manobra perigosíssima: o voice-over. No começo o narrador até me incomodou, mas logo percebi que sua presença tinha motivos para existir e que o que ele fazia era bem mais que uma simples narrativa. O narrador diz banalidades, aparentemente sem importância, mas que esmiúçam o objeto e ampliam o contexto. Ele dá ainda mais vida aos cenários do país culturalmente riquíssimo na qual a história é ambientada, que gera incríveis fotografias. Também com comentários sutis e às vezes irônicos ele nos ajuda a decifrar os segredos de nossos três personagens, extremamente bem desenvolvidos.

O filme não tem nada de melodramático nem de absurdo (embora pareça-me um pouco forçada a insinuação de envolvimento sexual dos dois rapazes). É quente, é despudorado, é real. Você precisa assistir este filme. Y tu mamá también.

#ficaadica

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Curta-metragem: O Guarda-Chuva Azul (The Blue Umbrella) - 2013; hiper-realismo e estilo vintage

O Guarda-Chuva Azul (The Blue Umbrella), lançado em 2013.
Um filme de Saschka Unseld.
Os filmes da Pixar sempre possuem um curta-metragem "bônus", que são exibidos antes do filme em si.
Não raro eles são também colocados como um extra nos DVDs e Blu-rays. The Blue Umbrella acompanha Universidade Monstro (post em breve).
Dos filmes da produtora este é um dos mais singulares. Dessa vez com um visual hiper-realista ele chega a lembrar um comercial televisivo em alguns momentos (principalmente por causa da música, por instantes pensei que era um comercial da O Boticário). É um filme simpático e muito bonito, mas parece faltar alguma coisa, algum tempero.
Mesmo assim vale muito a pena tirar sete minutinhos para se alegrar com a historinha boba e ingênua, num cenário urbano noturno e úmido, que lembra um pouco filmes dos anos 40 e 50, quando o principal objetivo do cinema ainda era fazer o público sonhar.

Qualquer problema com o vídeo, como ter sido deletado, por favor nos avise nos comentários.

domingo, 17 de novembro de 2013

Último Tango em Paris (Ultimo tango a Parigi) - 1972; um conto de erotismo e paixão

Último Tango em Paris (Ultimo tango a Parigi), lançado em 1972.
Um filme de Bernardo Bertolucci.
O filme que levou o nome de Bernardo Bertolucci os ouvidos do mundo foi um dos filmes mais polêmicos do cinema. Marlon Brando depois disse ter se arrependido do filme e ficou cinco anos sem falar com o diretor; Maria Schneider, até então desconhecida, com apenas 19 anos, disse ter se sentido violada pelo filme, que segundo ela arruinou sua vida. O filme foi proibido em vários países, inclusive no Brasil, que estava no período do governo militar, e o diretor italiano foi preso por quatro meses por obscenidade em seu país natal. A Itália só pôde assistir o filme na íntegra quinze anos depois. Escândalos à parte o filme recebeu duas indicações ao Oscar e hoje é considerado um importante clássico do cinema europeu.

Paul (Brando) é um americano entristecido com a morte de sua esposa. Ele conhece a jovem Jeannie (Schneider), mulher liberal noiva de um diretor de televisão. Os dois passam a se encontrarem em segredo em um apartamento em Paris, sem jamais revelarem suas identidades. 

No tempo em que estamos este filme não tem nada de mais, se fosse lançado hoje talvez até passasse por despercebido. Não é tão ofensivo quanto dizem. Mas em 72 estamos separados apenas quatro anos de eventos como a Primavera de Praga e o Maio de 68. O filme de Bertolucci foi lançado no período da revolução sexual, escandalizando o público conservador com cenas de sexo anal e um jogo de sedução baseado na dominação sexual. Diferente de outros tantos dramas eróticos, neste o ato não acontece de verdade. Não há sexo explicito e tudo são encenações, o que não impediu os atores de declararem terem se sentido violados por Bertolucci, que desde então foi considerado uma espécie de monstro do cinema. Tempos depois ele filmou o premiado O último imperador, que lhe rendeu o Oscar que não havia conseguido com a indicação por Tango, mas ainda hoje ele gera desconfianças sobre si e alguns atores não aceitam trabalhar com ele.

Tango oferece uma profunda reflexão sobre o amor e o sexo. Um verdadeiro estudo sobre o estado de espírito dos dois amantes, que veem seus encontros como uma fuga de suas vidas frustradas, ainda que também encontrem muito sofrimento dentro do apartamento, fazendo um sexo que parece triste, angustiado e desesperado. O tango, uma das danças mais sensuais e difíceis, é comandada pelo homem, exigindo uma grande química entre os dançarinos. Aqui os dois atores também possuem uma empatia, e Brando domina, tanto como ator como personagem. É também um filme intimista de Bertolucci.

Lento, monótono e cansativo as vezes, mas um filme cheio de beleza e sensualidade como poucos outros. Nos anos seguintes começa a era dos grandes blockbusters e filmes comerciais voltados para o público adolescente. A moda dos dramas eróticos não pegou, mesmo que em 76 o expressivo O império dos sentidos tenha votado a chamar a atenção do público e se tornado um expoente do cinema oriental.

#ficaadica

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Todos os Homens do Presidente (All the President's Men) - 1976; o mais realista filme sobre jornalismo investigativo

Todos os Homens do Presidente (All the President's Men), lançado em 1976.
Um filme de Alan J. Pakula.
Em Todos os Homens do Presidente Dustin Hoffman e Robert Redford são dois jornalistas numa investigação maçante sobre o escândalo político que obrigou o então presidente norte-americano Richard Nixon a renunciar ao cargo. Adaptação do livro de não-ficção homônimo de Bob Woodward e Carl Bernstein, este filme de Pakula (que assina A escolha de Sofia) nos leva juntos à uma trama tensa, inteligente e rápida.

Depois de um assalto à sede do comitê democrata em Washington, durante as campanhas eleitorais para presidente de 72, o jornal Whashigton Post publicou a notícia na primeira página. Mas enquanto o FBI investigava o caso, sem grandes descobertas, dois jornalistas do Whashington Post, Woodward (Redford) e Bernstein (Hoffman), também começaram a investigar o caso e sua possível relação com a Casa Branca.

Em tempos nos quais o jornalismo conta com nomes como José Luís Datena pregando seu sensacionalismo patético e vomitando preconceitos ao vivo, e onde mídias antes respeitadas como a Veja deixam claras suas parcialidades politícas e manipuladoras em cada matéria (e ainda abre espaço para colunistas como Reinaldo Azevedo e Augusto Nunes), All the President's Mens serve para mostrar o que há de nobre na imprensa, que apesar de vários desfavores à sociedade também sempre fizeram trabalhos importantíssimos, divulgando verdades e informações diversas sobre os mais variados assuntos. O filme mostra como é importante uma imprensa livre e desvinculada ao Estado.

Os dois jornalistas são totalmente profissionais, buscando a verdade sem deixarem que suas ideologias (um deles é republicano, inclusive) influenciem em seu trabalho. Redford, Hoffman, Jason Robards. Ao ver os três no editorial, seus modos de falar e se comportar, você acredita que realmente são jornalistas. Eles fazem telefonemas, vasculham papéis, batem em centenas de portas, entrevistam pessoas por horas, se encontram em estacionamentos escuros com informantes, se entopem de café. Esquecem de suas vidas pessoais durante os meses que dura a investigação.
Mesmo baseando-se quase exclusivamente em diálogos o diretor consegue manter o ritmo e um clima de tensão, são conversas inteligentes, não muito "mastigadas". É notável a agilidade dos dois para fazerem perguntas, perceberem coisas relevantes em pequenos detalhes e em contradições, darem respostas prontas para perguntas que tentam intimidá-los. 

Pakula filma amplos planos da redação, com seu típico ruído de máquinas de escrever, brinca com os cenários externos, explora prédios públicos de novos ângulos, joga com a luz e a sombra. Mesmo com muita conversa e pouca ação o filme nos deixa atentos e aflitos pelos desdobramentos. Um thriller que não poderia ser melhor em nenhum aspecto.

#ficaadica

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A Noite Americana (La nuit américaine) - 1973; uma sincera declaração de amor ao cinema

A Noite Americana (La nuit américaine), lançado em 1973.
Um filme de François Truffaut.
Em A rosa púrpura do Cairo Woody Allen faz uma genuína homenagem ao cinema. Cinema sobre cinema. Mas A noite americana é ainda melhor. Truffaut, um dos nomes mais importantes da história do cinema francês, presta uma homenagem à sétima arte numa obra metalinguística cheia de um humor irônico sobre a indústria. O próprio título se refere a uma técnica muito usada em filmes, noite americana é filmar uma cena noturna durante o dia, usando para isso um filtro. O filme recebeu o Oscar de melhor filme estrangeiro.

Ferrand (François Truffat) é um cineasta em plena produção de um filme. Entramos nos bastidores e vemos os problemas de orçamento, pressão dos produtores, problemas pessoais dos atores e técnicos.

A viagem que Truffaut nos propicia é deliciosa. Adentramos o universo cinematográfico e vemos o quão interessante ele pode ser por trás das câmeras. Vemos atores com egos inflados, estrelas em decadência, galãs homossexuais, atrizes grávidas, traição, intrigas e ciúmes. Problemas de tempo e dinheiro.
 
Truffaut praticamente interpreta a si próprio: Ferrand é um diretor sereno, inteligente e apaixonado pelo que faz. Num sonho ele se recorda da noite em que, ainda criança, roubou os cartazes de Cidadão Kane. De longe essa cena é a maior declaração de amor ao cinema que o filme possui.
Outra cena épica é a do gato. Naquele momento nós sentimos um pouco da emoção que é estar envolvido na produção de um filme.

O elenco é espetacular. Acredito eu que um ator interpretar um ator é difícil, já que o ator da trama ainda interpreta um segundo personagem. É preciso fazer esse personagem como se fosse o ator da trama, não como o ator real faria. Nesse contexto se destaca Valentina Cortese, a velha atriz. Vê-la neste filme (e no filme dentro do filme) é um deleite para qualquer cinéfilo. Nathalie Baye, que faz Joelle, uma das personagens mais inteligentes do filme, a única capaz de compreender as birras de Alphonse (Jean-Pierre Léaud), também surpreende.

A noite americana é um filme fantástico, principalmente para nós que também amamos o cinema.

#ficaadica