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quinta-feira, 31 de julho de 2014

Vovô Sem Vergonha (Jackass Presents: Bad Grandpa) - 2013; Knoxville mudando um pouco o curso de sua carreira

Vovô Sem Vergonha (Jackass Presents: Bad Grandpa), lançado em 2013.
Um filme de Jeff Tremaine.
Já devem ter reparado que este não é o tipo de filme que costumo assistir (não, não assisto filmes "escondido" por não serem "cult", todos que vejo eu posto a resenha aqui). Mas numa pequena reunião de amigos preferiu-se algo mais "leve", mais descontraído, mais simples de entender. E assim vemos este da série famosa Jackass. Devo dizer que foi uma escolha relativamente interessante.

Num formato parecido com o de um pseudodocumentário - onde os atores interagem com pessoas comuns que não sabem que se trata de um filme (semelhante a pegadinhas) - ele apresenta Irving Zisman (Johnny Knoxville), um senhor de 86 anos que logo após perder a esposa é encarregado de cruzar o país para levar o neto até o pai do garoto. No caminho os dois escandalizam as pessoas com as situações que armam.

A série Jackass é conhecida pelo seu humor escandaloso e sem noção, quase que masoquista. E, convenhamos, muitas das vezes de péssimo gosto. Aqui, depois do fim da série na TV, há uma mudança na fórmula. Em Bad Grandpa surge uma trama. E um humor menos perigoso. Numa mistura de pegadinhas e road movie ele nos faz rir devido às reações das pessoas a piadas e situações armadas pelo elenco e a produção. Assim, enquanto acompanhamos o desenrolar do pequeno enredo, nos divertimos com as expressões de perplexidade, vergonha ou ira das "vítimas"

O pequeno Jackson Nicoll tem de tudo para se tornar um grande comediante. Na pele de um garoto de 8 anos ele choca as pessoas com suas perguntas inoportunas, palavrões e ações politicamente incorretas como, supostamente, fumar e beber. Tudo isso o garoto faz com cara de ingênuo, de quem de nada sabe.
O garoto até protagoniza uma clara referência a outro road movie: Pequena Miss Sunshine.

Knoxville surpreende mais por sua aparência bastante crível, envelhecido por pesada maquiagem. Ele também se envolve em várias situações engraçadíssimas.

No mais é um filme sem grandes qualidades. Como as filmagens são realizadas por câmeras escondidas, em locais com iluminação natural, a fotografia não tem nada de especial, apenas dá um ar mais caseiro ao filme.

Obviamente, enquanto arte, não é grande coisa. Mas para o propósito de divertir despretensiosamente um grupo de amigos que há tempos não se reuniam, serve perfeitamente.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Assassinos por natureza (Natural born killers) - 1994; a sociedade do espetáculo

Assassinos por natureza (Natural Born Killers), lançado em 1994.
Um filme de Oliver Stone.
A princípio não curti este filme. Isto é, algo nele me desagradava nos primeiros minutos. Mas depois de algum tempo de filme, quando entendi perfeitamente qual era a sua essência e premissa, passei a gostar bastante. Todo o absurdo e sensacionalismo que permeia Natural Born Killers tem um motivo de existir, é uma crítica ferrenha que o mítico Oliver Stone fez à sociedade contemporânea.

Mickey Knox (Woody Harrelson) e Mallory Knox (Juliette Lewis) são um casal de serial killers. Além de saírem pelo país a matarem brutalmente dezenas de pessoas, se aproveitam da fama que desenvolvem por meio da mídia que cobre suas ações. Quase instantaneamente os dois se tornam super estrelas da TV. Enquanto isso um policial quase tão psicótico está no rastro deles.

O filme é polêmico; e rendeu muita dor de cabeça para Stone. Ele pegou o roteiro de Tarantino e modificou, deixando-o ainda mais violento e irônico. O filme é uma forte crítica à sociedade do espetáculo e à exaltação da violência. Foi proibido em alguns países e o diretor foi acusado e processado por supostamente incitar a violência - e há relatos de crimes violentos supostamente inspirados pela obra. A originalidade e a ousadia do longa foi tanta que mesmo ele estando a completar 20 anos ainda é incomum e chocante.

Stone, que foi aluno de Scorsese e se declara inspirado por gente como Buñuel, juntou aqui o surrealismo de um com a violência dos filmes do outro. A saga de Mickey e Mallory tingindo o país de vermelho é mostrado com uma orgia de efeitos e técnicas de filmagem, edição, estilos narrativos e ideias. Nas mãos do cineasta a trama é construída com animações, flash-backs em formato de sitcom, e narrativa linear. O que por sua vez misturam preto e branco, filtros coloridos, saturação de cores, realce de objetos ou partes do cenário, etc. E isso tudo ainda cheio de movimentos bruscos de câmera e cortes rápidos. Parece exagerado. E é, mas com motivos.
Com tudo isso é possível saber o que é pensamento ou visão dos personagens, o que é realidade, o que é a visão do público que acompanha as ações dos dois com idolatria e admiração. Esse último ponto, muito mais que ilustrar a banalização da violência, mostra como a sociedade anda doente.

Apesar de tanto sangue, também é um filme bastante engraçado. A sátira social rende boas risadas. Ações absurdas e personagens estereotipados - vividos por um elenco afiado - comandam esse enredo sobre a podridão do mundo. Pena que houve tanta gente que não entendeu que a grande exaltação da violência que acontece na trama na verdade pretende é alfinetar a mídia sensacionalista americana (mas também serve para a brasileira - beijos pro Datena) e mostrar como isso é coisa de gente estúpida.

A menos que você não suporte violência explícita, é interessante conhecer essa joia dos anos 90.

#ficaadica

terça-feira, 22 de julho de 2014

Carta aos leitores: Dois anos de O que assistir hoje à noite?

Meus caros leitores;

hoje o blog completa mais um ano de vida. Apesar de que nas últimas semanas as atualizações tenham caído drasticamente em número - o que se deve à atual vida agitada deste que vos escreve, lutando por um diploma universitário numa faculdade pública e por acrescentar uma letrinha à CNH, entre outros projetos menores - ainda conservo o gosto por escrever aqui minhas impressões sobre os filmes que vejo.

São duas paixões unidas: a de assistir produções cinematográficas e a de escrever. Duas paixões que têm ficado em segundo plano. É assim a vida nesse nosso mundo: o amor é deixado de lado para que lutemos por dinheiro, sucesso (seja isso o que for), ascensão social, solidez familiar e todas essas convenções sociais para sobrevivermos com um mínimo de liberdade e independência. Aos poucos algumas dessas convenções vão sucumbindo, os costumes mudam, alternativas emergem. Outras resistem firmes, à espera de invenção melhor. De toda a forma, pouquíssimos de nós nos sentimos realmente livres e completos. Alguma coisa anda errada nessa humanidade, e não faltam por aí bons filmes para ilustrar isso, e até mesmo mostrar parte desses supostos problemas. As soluções é que não são fáceis. Nem garantidas.

Enquanto não mudam-se as coisas, vamos dançando conforme a música; estudando e trabalhando como loucos em troca de um punhadinho (ou, meu caso de ainda estudante, a promessa) de dinheiro que nos permita comer. Sobrando uns trocados para o cinema ou locadora- ou outras paixões ou hobby, seja qual for - podemos continuar. Se não sobrar, procuremos um psiquiatra, já que ninguém sobrevive são muito tempo fazendo só coisas nas quais sente pouco prazer.

Meu futuro é incerto, só o tempo revelará as verdadeiras consequências de minhas escolhas. E imagino que quase toda a gente passa ou já passou por isso. Infelizmente, na maioria das vezes que percebemos que algo foi escolhido de modo errado, já é tarde. Só resta a resignação.

Não sei bem porque estou a dizer todas essas coisas. Saíram espontaneamente. O texto se desviou sem que eu - que ao longo de dois anos tenho mostrado ao mundo o quão limitado sou nisso de escrever e de analisar; o quanto ainda preciso evoluir - quisesse. Queria apenas dizer, mais uma vez, que aprecio gastar parte de meu tempo aqui. Praticamente, eu nem sequer sou lido. Mas gosto. A escolha quase impulsiva que foi a de iniciar este blog no bem-aventurado dia de 22 de julho de 2012 ainda não me pareceu ter sido errada. Aguardemos algum processo por uso não autorizado das imagens que uso aqui para ilustrar cada filme resenhado (risos).

Não sei o quanto este blog ainda viverá. Pode ser que enquanto eu for vivo eu escreva aqui. Pode ser que amanhã cedo acorde com vontade de eliminar isso aqui do universo de dados que é a internet. Pode ser que a paixão que sinto pelas artes daqui a um ano ou dez tenha se convertido no pior dos ódios. Não sei.

Por hora, limitemo-nos a comemorar esses dois anos de existência.

sábado, 19 de julho de 2014

Curta-metragem: O poeta dinamarquês (The Danish Poet) - 2006; destino ou acaso?

O poeta dinamarquês (The Danish Poet), lançado em 2006.
Um filme de Torill Kove.
Coprodução entre Canadá e Noruega, The Danish Poet ganhou o Oscar de melhor curta de animação. Com traços simplistas mas muito meigos, o filme nos conta uma pequena história de como as coisas são interligadas e uma ação desencadeia uma série de eventos que produzem alguma consequência. O enredo é construído a partir da narrativa de uma "criança" já crescida, que imita a voz dos outros personagens e conta parte de sua própria história. 

E observem as pinturas do consultório do médico. Nada mais pertinente para um psicanalista.
Qualquer problema com o vídeo, como ter sido deletado, por favor nos avise nos comentários.

sábado, 12 de julho de 2014

Deus e o Diabo na Terra do Sol - 1964; o cinquentão do Cinema Novo

Deus e o diabo na terra do sol (Deus e o diabo na terra do sol), lançado em 1964.
Um filme de Glauber Rocha.
Influenciados pela Nouvelle Vague e pelo neorrealismo italiano, no final dos anos 50 alguns cineastas brasileiros começam a produzir um cinema mais autoral e independente. Surgia o movimento Cinema Novo. Um dos nomes mais representativos nessa vanguarda foi Glauber Rocha, sobretudo com seu Deus e o diabo na terra do sol, que completa 50 anos de lançamento. O filme foi indicado à Palma de Ouro e ainda hoje é reconhecido como um dos maiores filmes brasileiros já produzidos.
No final dos anos 30 Manoel e Rosa vivem no árido sertão da Bahia, em estado de miséria. Depois de ser explorado por um latifundiário, Manoel o mata e foge com sua esposa para Monte Santo, onde um profeta, "São" Sebastião, conduz uma legião de fieis miseráveis numa revolução contra a injustiça social e por um caminho de sacrifícios que diz ser o da salvação divina. Antônio das Mortes é contratado pela Igreja e pelos grandes fazendeiros para matar o profeta e acabar com alguns cangaceiros.

Glauber Rocha não esconde as referências à Guerra de Canudos, ocorrida cerca de quatro décadas antes do enredo do filme. Inclusive o conflito e suas consequências são citadas várias vezes na obra. Canudos foi uma comunidade liderada pelo líder religioso Antônio Conselheiro no finalzinho do século XIX, no sertão baiano, onde milhares de sertanejos e ex-escravos foram viver na crença de uma melhora de vida que era prometida por ele. A cidade foi massacrada pelo exército. No filme essa história se repete, uma estratégia do diretor para mostrar como a miséria e a desigualdade não melhorara desde então. O cangaço também aparece no filme: um dos protagonistas, Corisco (personagem histórico que inspirou o diretor a realizar o filme) é o sobrevivente do massacre que matara Lampião e Maria Bonita.

Sebastião é um lunático que promete aos sertanejos miseráveis um novo tempo de fartura e boa-aventurara.
Mas sua insanidade chega a levar os fieis, inclusive Manoel, a cometerem sacrifícios enormes, crimes e assassinatos. Quem se mantém preso à razão, caso de Rosa, é condenado pelos outros fieis. Já Antônio é o mais racional e passa por uma crise existencial. É um filme de paradoxos, de antagonismos. Mas seja do lado de Deus, seja do lado do Diabo, a vida no sertão é de violência e sofrimento.

Foi de modo novo e muito pessoal, mas também fortemente inspirado pelos westerns americanos, que Glauber Rocha filmou. A fotografia natural dos cenários áridos, feita com câmera de mão, realiza alguns movimentos bem peculiares, alguns deles belos, como os giros que acompanham os personagens.
Giro este que também é dos mais teatrais. Aliás, Deus e o diabo na terra do sol é bastante teatral. O filme é cheio de improvisações, monólogos, atores falando de modo sempre sussurrado ou eloquente de mais, falas pouco críveis ou descartáveis.

A trilha sonora mistura a música clássica de Villa-Lobos com canções de cordel que como radionovelas narram os acontecimentos. Não achei a obra assim tão unanimemente boa, mas com toda a certeza é um filme que vale a pena assistir, não só pela qualidade mas também por sua importância no cinema nacional.

sábado, 5 de julho de 2014

Biutiful (idem) - 2010; juntando os cacos

Biutiful (Biutiful), lançado em 2010.
Um filme de Alejandro González Iñárritu.
É difícil descrever o poder emotivo de Biutiful, do cineasta mexicano Iñarritu (Babel Amores Brutos). Carregado do mais amargo e denso drama, trás Javier Bardem como um homem que, à beira da morte, precisa resolver seus assuntos pendentes. Pelo memorável desempenho, o ator foi premiado em Cannes e em outros festivais e premiações.

Uxbal (Bardem) vive de conversar com os mortos, subornar policiais e agenciar imigrantes ilegais para encontrarem empregos informais. Além disso faz o que pode para criar e educar os dois filhos. A mãe das crianças, ex-esposa de Uxbal, tem problemas de bipolaridade que a atrapalha no relacionamento com a família. Quando é diagnosticado com câncer terminal, ele precisa cumprir suas pendências e se redimir com a vida.

Biutiful é deprimente e pesado. Bardem, que dois anos antes trabalhara com Woody Allen na colorida e linda Barcelona de Vicky Cristina Barcelona, agora aparece nos subúrbios pobres da mesma cidade a explorar um punhado de miseráveis para também sobreviver na pobreza.
Iñarritu parece ter uma visão bem pessimista do mundo. Em seus três filmes anteriores ele explorou um roteiro de tramas paralelas interligadas, mostrando como toda ação tem uma reação e que existe mesmo um efeito dominó dentro da vida humana. Uma ação ruim desencadeia uma série de desgraças que se alastram. Em Biutiful a trama se torna uma só. A sociedade continua doente, seja com sua xenofobia seja com sua indiferença para com o sofrimento alheio. Quase toda a desgraça vai para cima de um único homem. Ao ficar entre a vida e a morte, Uxbal precisa refletir sobre sua existência e talvez expiar seus pecados, remendar o que resta de sua vida. Tudo isso pode parece melodrama ou existencialismo barato, mas não é.

Nesse sentido a premissa só desliza um pouco ao parecer estar julgando seus personagens. Todos com seus erros e mentiras, todos parecem estar sendo punidos por eles. Esse moralismo fica mais evidente com o desnecessário fato de Uxbal ser um médium. Seria um modo de o diretor pregar que alguma força metafísica, ou deus, nos pune? Espero que não. Mas acho que sim.

O interessante título é a grafia propositalmente errada de "beautiful", belo em inglês. A beleza porém aparece pouco aqui, e está sempre na poesia e no realismo dos cenários feios e sujos e dos personagens tristes e acabados. Nisso se destaca Bardem. O ator já provou ser de tudo um pouco, fazendo os mais diversos e versáteis papéis. Aqui ele é o mais banal dos homens, estando apenas a tentar sobreviver. A argentina Maricel Álvarez, na pele da bipolar e explosiva Marambra, também emociona.

O estilo de Iñarritu fotografar continua quase inalterado. A câmera de mão continua exploradora, impessoal e agoniante. A trilha de Santaolalla, felizmente pouco usada, é que não é das melhores.

#ficaadica