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segunda-feira, 29 de junho de 2015

Curta-metragem: Window Water Baby Moving (1959); o milagre de nascer

Window Water Baby Moving, lançado em 1959.
Um documentário de Stan Brakhage.
Brakhage, diretor norte-americano conhecido na cena underground e reconhecido como um dos maiores realizadores do chamado cinema experimental, filmou o nascimento de sua primeira filha.

Diretor de filmes polêmicos, a maior parte curtas e médias, crítico e estudioso de cinema. Desconhecido do grande público. No final dos anos 50 ele filmou o parto de sua filha, sem censura. Numa montagem frenética, em meio a carícias, suor, sangue e dor, é registrado o momento primeiro da vida de um ser humano. 

Há cenas explícitas que podem ser fortes a muitas pessoas. Mas é um filme de extrema beleza e sensibilidade, intensificadas pela completa ausência de sons; uma experiência puramente visual.


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sexta-feira, 19 de junho de 2015

A Doce Vida (La Dolce Vita) - 1960; a Roma reconstruída

A Doce Vida (La Dolce Vita), lançado em 1960.
Um filme de Federico Fellini.
Dos mais conhecidos dos trabalhos de Fellini, A Doce Vida é um clássico italiano cultuado mundo afora por críticos, público e outros cineastas. Pelos olhos de um jornalista mulherengo, Marcello (personagem que é quase um Fellini - o filme é um tanto autobiográfico), o diretor mostra a Roma pós-guerra em transformação do final dos anos 50 e trata de assuntos existencialistas.
Na Itália de poucos anos depois da Guerra, já reerguida pelos financiamentos americanos, o jornalista de fofocas de celebridades Marcello (Marcello Mastroianni, pela primeira vez trabalhando com Fellini e que se tornaria seu ator favorito) transita à vontade entre os membros da alta sociedade, com seus ricaços entediados, intelectuais deprimidos e celebridades (e pseudo-celebridades). Bonito e charmoso, ele se relaciona com diversas mulheres, a socialite Maddalena (Anouk Aimée), a possessiva e decadente Emma (Yvonne Furneaux), a atriz Sylvia (Anita Ekberg, que aqui protagoniza a cena de sua carreira, banhando-se na fonte) entre outras. A seu lado trabalha o fotógrafo Paparazzo (é graças a esse personagem do filme existem os termo paparazzo e paparazzi), sempre sedento de furos.


Cheio de poesia e simbolismos, esse filme retrata o modo de vida vazio de seus personagens, incluindo o protagonista. Infeliz com o trabalho ele - e seus contemporâneos - procura um pouco de prazer no álcool, tabaco e sexo. Essa busca hedonista percorre todo o filme e já é previsível que essa doce vida há de amargar em algum momento. A Roma que Fellini filma aqui, está em todo seu explendor turístico: linda e cada vez mais visitada. A sociedade dela é que passa por mudanças de valores morais nem sempre desejáveis; cada vez mais fútil, mais entediada, mais carente.  E assim visitamos orgias, festas decadentes que mais têm de melancólicas que de divertidas, reuniões privadas de gente esnobe e um circo de desesperada fé em torno de duas crianças a mentirem ter visto a Virgem Maria (semelhanças com o mito de Fátima não deve ser coincidência). Sem mencionar hospitais, quartos de prostitutas pobres e cabarés. Como compôs Rita Lee, "Tá cada vez mais down a high society".
A Marcello falta o verdadeiro amor. Nem o pai, que era distante em sua infância, é amado; muito menos o são essas mulheres voláteis de sua vida. Falta também gostar de seu emprego. Falta se reencontrar, quiçá se amar. Será que ele encontrará um sentido para sua existência?
A belíssima fotografia monocromática acrescente charme à obra, sempre explorando a cidade, os ambientes internos, as expressões do elenco competente. Não é difícil compreender o encanto que esta obra causa há mais de cinquenta anos. Fellini para ver e rever.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Curta-metragem: Comida (Jídlo) - 1993; luta de classes

Comida (Jídlo), lançado em 1993.
Um filme de Jan Svankmajer.
Mais um curta do tcheco Jan Svankmajer. Dessa vez sobre a alimentação humana. O curta é a junção três partes, Café, Almoço e Jantar, cada um abordando uma das três principais refeições diárias com indivíduos de diferentes classes sociais. Além do uso do stop motion combinado à ação natural (Svankmajer é conhecido por essas animações) que flertam com o surrealismo e até o expressionismo. 

Mas claro que há metáforas por trás de tudo isso, principalmente sobre distribuição de riquezas e estilos de vida das pessoas. 

Enquanto os pobres se revezam para comer, arrancando a comida uns dos outros, consumindo uns aos outros, dividindo o alimento; os ricos, com tanta opção e fartura à disposição, ficam entediados sem saberem o que querem de fato comer. Permanecem infelizes e literalmente se consomem. No meio termo a classe média que se sente rica, mas ninguém liga para ela, ninguém faz suas vontades e nem está assim tão bem, tendo que se virar para encher o estômago.

Confira a genialidade do cineasta:

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domingo, 7 de junho de 2015

Lola (idem) - 2009; velhice e miséria

Lola (Lola), lançado em 2009.
Um filme de Brillante Mendoza.
O mais badalado diretor filipino contemporâneo, Brillante Mendoza tem marcado presença e deixado seu legado nos principais festivais europeus, devido a seus filmes realistas que abordam temas universais, ao mesmo tempo que exploram e mostram ao mundo a Indonésia moderna. Lola (avó na língua tagalo) é cru e intenso.

Duas idosas, ambas avós, dos subúrbios pobres de Manila têm suas vidas interligadas quando o neto de uma é assassinado e o principal suspeito é o neto da outra. Enquanto uma luta para conseguir dinheiro para pagar as despesas funerárias, a outra tenta levantar recursos para pagar a fiança.


O que se vê aqui são duas mulheres debilitadas pelo tempo, pela pobreza e por outros problemas a percorrerem as ruas sujas e alagadas da capital filipina. Já no fim da vida fazem um último esforço para manter bem a família, seja enterrando com um mínimo de dignidade um neto morto ou dando uma segunda chance para um neto que cometeu erros. Para isso precisam do combustível do mundo, sem o qual não se pode sequer morrer ou rezar: dinheiro. E aí começa uma peregrinação de ambos os lados que envolvem meios legais e ilegais, da penhora e mendicância à pequenos furtos cometidos na hora de dar o troco a um cliente. Tudo no meio da pobreza, não se estranhe que a ajuda venha por meio de uns ovos de pata que serão vendidos quase à força.


Além da questão da pobreza, da problemática do hiper-capitalismo e da velhice, ainda surge espaço para se questionar a justiça. Tanto o aparato legal, a ineficiência e alto custo do judiciário, quanto adentrar à parte filosófica da palavra, que é a justiça e qual seu papel num mundo de injustiças e privações.


Tudo isso é realizado no já conhecido estilo estético do diretor, que tem ares de documentário e flerta com o neo-realismo; visual meio inacabado e underground, com cores frias, iluminação natural (ainda que ineficiente), enquadramentos incomuns e muitas vezes incômodos, câmera na mão, poucos diálogos, pouca música e muito som ambiente. Boa parte do elenco também são de pessoas comuns que vivem na área em que o filme é ambientado, não são atores reais. Não é o caso das protagonistas, porém, nomes conhecidos e respeitados das artes dramáticas filipinas.


Lola é quase um Chop Shop em estilo, ambiente e temática. Porém em um temos dois indivíduos no início da vida lutando por dias melhores, com uma chama de esperança que arde mesmo em meio a tanta desgraça; no outro duas mulheres à porta da morte resignadas com a vida difícil mas também com um fio de esperança de que a continuação de suas vidas, filhos e netos, possam ter dias melhores.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Bem me quer, mal me quer (À la Folie… Pas du Tout) - 2002; obsessivo amor

Bem me quer, mal me quer (À la Folie… Pas du Tout), lançado em 2002.
Um filme de Laetitia Colombani.
Audrey Tautou, conhecidíssima por seu papel como a doce Amélie Poulain, aqui empresta novamente sua beleza e doçura. Aqueles mesmos olhos meigos estão aqui. A diferença é que agora estes olhos pertencem a uma doente mental capaz de sujar as mãos de sangue.

Angélique (Tautou) é uma artista plástica profundamente apaixonada pelo médico Loic (Samuel Le Bihan). Mas a suposta relação entre os dois parece muito conturbada o que faz com que os amigos dela a aconselhem a terminar. Loic, por outro lado, tem problemas com a esposa por causa dos presentes que recebe de Angélique.


Apesar do título brega dado no país (que apesar dos pesares tem uma certa vantagem, já que faz a todos pensar se tratar de um romancezinho bobo qualquer para depois vir a surpresa) o filme é sobre ilusões e se divide em duas partes, feitas a partir de dois pontos de vista, onde uma é romance e outra é um thriller.


Usando essa estrutura o filme aborda a vida de uma erotomaníaca - portadora de uma espécie de paranoia na qual se acredita piamente que existe um profundo caso de amor entre o doente e um outra pessoa. Dessa forma os eventos, vistos duas vezes, na verdade acabam completamente diferentes. Até a realidade é subjetiva, meus caros leitores. Sempre vivenciamos situações de modo distinto a outras pessoas.


Enquanto pelos olhos de Angélique o mundo é colorido e romântico, pelos de Loic é cinza e assustador. Essa divisão ocorre inclusive na estética. De fato a fotografia é levemente mais saturada na primeira parte que na segunda, assim como a própria Angélique (tão doce na primeira parte que chega a ser irritante) aparece em cena na segunda parte geralmente menos feliz. Se no início o filme soa demasiado banal e estúpido, "fofinho" demais, com cara de romance barato, é um modo de deixar a reviravolta inesperada. Pena que a diretora recorre a clichês do naipe de inserir um amiguinho apaixonadíssimo que fica a chupar o dedo, comentário narrativo feito pela protagonista e a falta de cuidado com a casa como forma de indicar a passagem do tempo e e o estado de desequilíbrio emocional.
Ainda assim o filme tem um frescor interessante e um roteiro, que se não é dos mais originais em estilo narrativo e temática, tem um enredo inesperado e provavelmente inédito.