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terça-feira, 29 de setembro de 2015

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance)) - 2014; novos rumos para a vida

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance)), lançado em 2014.
Um filme de Alejandro González Iñárritu.
Conhecido pela sua "Trilogia da Morte" (ou "Trilogia do Caos"), Iñárritu, é um diretor de algumas peculiaridades. Este Birdman que lhe rendeu o Oscar de melhor diretor e melhor filme fez o que poucos antes ousaram sequer tentar fazer e praticamente apenas Hitchcock teve sucesso: um longa inteiro que é quase um único plano sequência. Não foi filmado de fato numa única tomada, mas tem mesmo lindos e longos planos-sequência que no processo de montagem foram perfeitamente sincronizados.

Riggan Thomson (Michael Keaton) é um ator que no passado fez muito sucesso como o protagonista de um filme de super-herói mas que atualmente foi esquecido. Numa tentativa de retomar a fama mas ao mesmo tempo fugir da imagem coletiva que o vê apenas como um herói de cinema, ele decide adaptar, dirigir e estrelar uma peça na Broadway. Além dos problemas com a ex-esposa e filha, ainda precisa lidar com o empresário e atores problemáticos durante o período de estreia, quando uma voz em sua mente, do personagem Birdman que interpretara, insiste em tirá-lo do sério.

A metalinguagem vai além de um filme sobre atores de cinema e teatro. Keaton, assim como seu personagem, é um homem que no passado fez sucesso como um super-herói (no caso, Batman) e que meio esquecido quis fazer coisas mais prestigiadas para se livrar do estigma que esse tipo de personagem (super-herói) costuma deixar - tanto que não é raro atores recusarem papeis milionários por esse motivo. Essa ironia é apenas uma a mais neste filme de ironias e humor negro.

Assim como o personagem de Keaton muda a direção de sua carreira - do cinema pipoca para o "cult" - Iñárritu também tenta se reinventar. Dos dramas fúnebres para a comédia que é Birdman. Não é um filme de grandes risadas, no entanto. O humor que aqui habita é satírico: alfineta a indústria do entretenimento, com seus artistas com inflados egos, gente louca por dinheiro e críticos arrogantes. Todos a tentarem parecer admiráveis pelas suas obras (me lembrei da conhecida entrevista de Jô Soares à artesã Eila Ampula, que diz fazer suas obras apenas por dinheiro e quando questionada sobre uma visão ou mensagem artística disse "besteira", arrancando risada da plateia).

Embora por vezes se aproximem de estereótipos, os personagens são bem construídos e realisticamente ambíguos, cada um com seus problemas. O elenco selecionado a dedo é primordial nisso e praticamente só há boas interpretações, mesmo de personagens secundários. Nenhum, porém, se destaca mais que o protagonista de Keaton. Thomson é um homem à beira da loucura, de tão engrandecida auto-imagem acha ser capaz de levitar e quebrar coisas com a mente, mas ao mesmo tempo se agonia de ansiedade e insegurança e ciúmes diante da loucura dos bastidores de sua peça, temperada com a presença da ex-esposa e da filha drogada como assistentes.


Atração à parte, a fotografia é feita por uma câmera que anda pelos corredores escuros do teatro- quase sempre em ritmo frenético - a espiar a vida das pessoas. Parece até que estamos a ver pelos olhos de uma dessas assistentes loucas e indiscretas. Os cortes foram trabalhados na montagem de modo a parecer que o filme quase inteiro é uma sequência só. Propositalmente há, às vezes, um certo ar de precariedade na fotografia que as vezes é sub-iluminada, noutras vezes adquire uma textura granulada como se a câmera fosse vagabunda e é um pouco dessaturada (redução das cores). Com a trilha meio minimalista - praticamente só uma bateria - mas ainda assim frenética, a sensação de agitação e certo caos é inevitável.

Birdman tem sido apontado como um filme que as pessoas odeiam ou amam. Este que vos escreve se encaixa no segundo grupo.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

A Fraternidade é Vermelha (Trois couleurs: Rouge) - 1994; eu que era triste, descrente deste mundo

A Fraternidade é Vermelha (Trois couleurs: Rouge), lançado em 1994.
Um filme de Krzysztof Kieślowski.

Último filme da Trilogia das Cores de Kieślowski, lançada na primeira metade da década de 90, Rouge trata do ideal da fraternidade e da cor vermelha da bandeira francesa. Dos três é o mais querido do público e da crítica num geral.

Valentine (Irène Jacob) é uma modelo, recém contratada para um comercial de goma de mascar, que atropela um cão. O dono do animal é um juiz aposentado (Jean-Louis Trintignant) que passa seus dias fazendo escutas telefônicas dos vizinhos. Apesar da repulsa inicial com as atitudes do amargurado juiz - que lhe deu o cão - os dois acabam se aproximando após ele a fazer refletir sobre o que é fazer o bem aos outros.

Mais rápido e dinâmico que o contemplativo Bleu e mais lento que Blanc, é Rouge, nessa posição de equilíbrio, que interliga os outros filmes da trilogia. O que há de unir os personagens dos três filmes é o acaso, uma tragédia que vivenciaram em comum. Se o acaso (ou destino, ou ironia da vida, ou providência divina, como quiserem chamar) está presente em todos os três filmes e leva a acontecimentos na vida de cada personagem, é aqui no final que aparece de modo mais intenso ou, ao menos, mais explícito.

Um livro que cai pode mudar uma vida. Essa questão de pequenas coisas modificarem coisas grandes (que remete diretamente à parte da Teoria do Caos estudada por Lorenz) tem sido abordada no cinema em vários filmes, como em Corra, Lola, corra, ou mais diretamente em Efeito Borboleta (nome da teoria de Lorenz). Mas não com a delicadeza que ocorre aqui. Personagens que vivem próximos mas que nunca se viram (tão comum em grandes cidades, ainda mais com o estilo de vida frenético da atualidade), acidentes que unem vidas, histórias de vida parecidas mas totalmente independentes uma da outra é que constroem essa trama de encontros e desencontros.

Os protagonistas são o oposto um do outro. A linda Jacob é doce, benévola. O juiz (Trintignant, ótimo) amargurado e desagradável. Ainda assim se tornam amigos. A amizade é uma redenção, uma alegria, mesmo com os defeitos de cada um. A humanidade é imperfeita. Os idealismos também. A solidariedade é mais um desejo de ajudar os outros por auto realização e bem estar próprio que por generosidade pura, acusa o filme por meio de uma fala do juiz. Reflexões sobre igualdade, moral, ética, lei e altruísmo são trazidas à tona.

A fraternidade é vermelha como o sangue que jorra nas veias de todos os seres humanos, iguais na sua insignificância. O vermelho é um protagonista, assim como a cor também é no restante da trilogia. Aqui se usa menos filtros que nos outros dois, mas nunca cenários, figurinos e objetos estiveram tão deliberadamente coloridos. Vermelho que se revela nos travelings, closes, planos e quadros cheios de estilo e apelo estético.
Com Rouge Kieślowski fecha a trilogia com chave de ouro. Morreu de ataque cardíaco pouco depois, já aposentado, embora tivesse pouco mais de 50 anos. Mais de vinte anos e ainda hoje sua obra é constantemente visitada e revisitada por cinéfilos de todo o mundo.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A Igualdade é Branca (Trois Couleurs: Blanc) - 1994; ainda te quero

A Igualdade é Branca (Trois Couleurs: Blanc), lançado em 1994.
Um filme de Krzysztof Kieślowski.


Segundo filme da Trilogia das Cores, Blanc é um drama com ares de comédia que trata da cor branca da bandeira francesa e do ideal de igualdade da Revolução Francesa. Dos três este era o predileto do cineasta.

Em Paris o cabeleireiro imigrante polonês Karol (Zbigniew Zamachowski) é casado com a francesa Dominique (Julie Delpy). Mas o casamento é anulado numa sessão judicial onde Karol é humilhado. Sem esposa ele perde a cidadania francesa, amigos e a parte que tinha como sócio da esposa num salão. Num estado de mendicância ele ainda consegue voltar para a Polônia, onde ele prospera financeiramente e busca ficar igual à ex.

Diferente do primeiro filme, Bleu, que é mais lento e melancólico, Blanc é mais dinâmico e leve, inclusive flerta de perto com a comédia na hora de narrar os desencontros e tristeza de seus personagens.

Karol ama a esposa, mas tem problemas de ereção que impedem que satisfaça Dominique sexualmente. Ela também o ama, mas irritada diante dessa carência de sexo decide anular o casamento. Esse Karol sozinho num país que não é seu, sem dinheiro e sem documentos, conhece outro polaco - também infeliz embora por motivos distintos - e volta à Polônia recém-capitalista, onde muda de classe social, mas sempre triste e com nítida saudade de Dominique. Volta à Polônia do inverno, coberta de neve e igualmente branca no céu. Branco cor da pureza, cor sem cor, cor séria e calma. Como nos outros filmes, a cor é importante e está sempre presente em cenários, figurinos, na iluminação e nos filtros. Os closes em rostos e objetos estão presentes.A desmitificação das supostas "liberdade, igualdade e fraternidade" da França e do resto da Europa - supostamente unificada, dizer que mais tem de poético que de real - continua neste segundo filme. Igualdade é um termo controverso, pois a igualdade está longe de ser sinônimo de justiça. Chega até a ser difícil definir o que é a igualdade entre os homens. Que seria isso, iguais no ponto de vista do quê? As diferenças não deveriam ser respeitadas? Uma imagem muito conhecida é capaz de fazer refletir:



No filme há de se tentar equalizar as forças, as desgraças, as humilhações, a falta de comunicação pela diferença de idiomas. Obviamente isso só traz mais injustiça e sofrimento a Zamachowski, excelente no papel, e à linda Julie Delpy, que ao mesmo tempo nos causa uma certa antipatia pelas ações que faz com Karol e empatia pelos motivos do divorcio e pena da injustiça em que será enfiada.

O terceiro e último filme é A Fraternidade é Vermelha.