Um documentário de Décio Matos Jr..
Até uns dois ou três anos atrás, este que vos escreve não sabia quem era Tom Zé. Talvez eu tivesse lido ou ouvido o nome em algum lugar, mas sequer sabia do que se tratava. Foi quando descobri a obra-prima irretocável deste homem que é, talvez, o mais experimental músico brasileiro: "Estudando o Samba". Tal disco foi o mesmo que conquistou o músico David Byrne nos anos 90, episódio que foi o divisor de águas na carreira de Tom Zé.
O documentário de Décio Matos Jr. acompanha uma turnê do artista pela Europa, feita em 2005. Na época o músico estava com 70 anos. Além disso ouve o artista, sua musa/porto-seguro/produtora/esposa Neusa Martins e umas tantas outras pessoas ligadas ao músico, incluindo Gilberto Gil e Caetano, com quem Tom Zé tinha certo ressentimento.
O baiano de Irará foi um dos precursores do Tropicalismo e de longe o mais inventivo e experimental do movimento. No entanto, diferente de Gil, Caetano, Gal e Bethânia, Tom Zé foi logo esquecido pelo público e amargou duas décadas de ostracismo, até ter seu principal disco, lançado ainda nos anos 70, ouvido durante a década de 90 pelo guitarrista da Talking Heads quando em viagem ao Brasil. A partir daí Tom Zé foi redescoberto por parte do público brasileiro e ganhou grande notoriedade no exterior.
Essa turnê, filmada em Itália, Suíça e França, não só comprova o sucesso fora do país como serve de base para o documentário. A intimidade do músico é colocada nas telas e mostra um homem bem humorado, perfeccionista e ousadíssimo. Ovacionado num lugar, vaiado em outro. Assim foi recebido o músico que faz shows de capacete de construção, "toca" um esmeril ao vivo e sai nos tapas com um técnico de som que tenta humilhá-lo, num momento de profunda raiva.